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Como aliviar a sensação de olho seco?

Uso de colírio lubrificante e cuidados com a lente de contato podem amenizar os sintomas do olho seco.

Como aliviar a sensação de olho seco?
Baseado em evidências científicas

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Vermelhidão, vontade de piscar os olhos com mais frequência, lacrimejamento intenso e até uma sensação de ardor. Esses são alguns dos efeitos desagradáveis que o olho seco pode causar na visão.

As causas para o olho seco podem ser múltiplas, mas todas estão necessariamente ligadas a algum tipo de desequilíbrio no fluxo ou na qualidade das lágrimas, principais responsáveis por lubrificar e lavar os olhos, explica a médica Cássia Regina Suzuki, oftalmologista do time de especialistas da Alice e doutora em retina pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Esse desbalanço pode estar ligado a uma redução na produção de lágrimas pelo organismo ou à evaporação excessiva delas.

Do que são feitas as lágrimas?

As lágrimas são compostas, basicamente, de três camadas: a de muco, a aquosa e a gordurosa. Além de água, uma lágrima saudável possui diversos nutrientes, como proteínas, e deve ter um pH equilibrado.

Além de lubrificar, elas também têm a propriedade de lavar nossos olhos e equilibrar o pH da região. Isso evita que, com a poluição e a poeira do ambiente externo, altere a quantidade de componentes ácidos.

Porém, quando há poucas lágrimas, ocorre uma insuficiência nessa capacidade de remoção dos resíduos, causando uma sensação de ardor e lacrimejamento.

Existem basicamente dois tipos de lágrimas:

  • Basal, que é aquela que a gente não percebe, mas que está nos olhos, lubrificando-os com os nutrientes certos e com todos os componentes equilibrados;
  • Reflexa, que ocorre quando a produção de lágrima basal não é suficiente, e o olho fica seco. Paradoxalmente, ocorre um estímulo para produzir mais lágrimas, a reflexa, composta de muita água e pouco nutriente, completamente desequilibrada.

Por que o olho fica seco?

Há inúmeros motivos para a diminuição da produção de lágrimas e outros tantos que expliquem a secagem acelerada delas.

“O exame do olho permite identificar também qual parte da lágrima está tendo uma produção insuficiente, se é a aquosa, a mucosa ou a lipídica. Por exemplo, existe uma doença chamada blefarite que indica a redução da produção de gordura, e isso só o especialista vai conseguir detectar.”

No entanto, há dois principais motivos para o olho seco. O mais comum deles, motivador da grande maioria dos casos que chegam aos consultórios, se deve a um conjunto de maus hábitos da vida moderna:

  • Insuficiência na constância das piscadas: é durante a piscada que levamos lágrima para os olhos. Na grande maioria das vezes, quando estamos executando qualquer atividade de longa duração que demande muita atenção (como o trabalho, o uso excessivo de telas, a leitura de livros e até assistindo a um filme), a gente acaba diminuindo o número de piscadas, reduzindo a quantidade de lágrimas no olho;
  • Ambientes com muito ar-condicionado ou muito seco: essas condições podem acelerar a evaporação das lágrimas;
  • Uso de lentes de contato por muito tempo: a maior parte das lentes de contato é gelatinosa e hidrofílica. Ou seja, ela geralmente precisa de muita água para ficar estável e vai competir com o olho pela mesma quantidade de lágrima disponível. No caso de pouca produção de lágrima, a lente de contato acaba levando vantagem, e o olho fica com pouca lágrima, perdendo as capacidades de lavar e lubrificar a vista.

O que é a síndrome do olho seco?

O segundo principal motivo para o olho seco, embora mais raro, é a síndrome do olho seco. São assim que são chamadas muitas doenças sistêmicas, como as autoimunes, que diminuem a produção da lágrima.

Alguns exemplos das doenças autoimunes que acarretam problemas oculares:

  • Artrite reumatoide;
  • Síndrome de Sjögren;
  • Doença de Behçet;

“Mas, na realidade, a porcentagem de doenças de olho seco é pequena. O que a gente mais encontra são esses vícios de piscar pouco, aliados a longos períodos no ar-condicionado e ao mau uso da lente de contato. Os maus hábitos aliados ao uso incorreto da lente de contato causam os casos mais prevalentes”, explica Cássia Regina Suzuki.

Outra condição, chamada blefarite (ou meibomite), também pode causar um ressecamento nos olhos. Trata-se de uma inflamação na pálpebra que “entope” as glândulas produtoras de gordura, localizadas na borda da pálpebra, perto da raiz dos cílios. Quando elas param de produzir a quantidade adequada de gordura, acabam alterando a composição da lágrima, pois é justamente a camada lipídica que evita a evaporação da lágrima. Sem ela, o olho seca mais rapidamente.

Como aliviar a sensação do olho seco?

Na maioria das vezes, o problema recai sobre o fato de não conseguirmos controlar a frequência do nosso piscar de olhos. “Não dá para acionar um timer para nos lembrar de fazer isso”, brinca a médica. Sendo assim, alguns mecanismos ajudam a reduzir os sintomas do ressecamento do olho:

  • Uso de colírios lubrificantes: as chamadas lágrimas artificiais podem auxiliar bastante quem apresenta sintomas de olhos secos. Se o oftalmologista chegar à conclusão, após o exame das vistas, de que não se trata de um caso sério como uma síndrome do olho seco, está liberado pingar uma gotinha em cada lado de 3 a 4 vezes por dia. A médica Cássia Suzuki faz um alerta ao desaconselhar fortemente o uso de colírios que sejam à base de nafazolina, pois eles são vasoconstritores que acabam gerando uma espécie de dependência por parte do corpo. “São perigosos, a gente não recomenda”, diz.
  • Usuários de lentes de contato precisam ir a consultas regulares: ao menos uma vez ao ano, o oftalmologista precisa examinar a córnea para ver se ela não está tendo algum problema, se a lente de contato está sendo usada da maneira correta etc. “Existem muitas adaptações de lentes de contato que não são feitas pelo médico, acabam sendo feitas nas óticas, e essas adaptações podem trazer problemas, como quando a lente está apertada ou é uma lente de qualidade ruim, que permite pouca troca de oxigênio, ou a má orientação em relação às trocas das lentes descartáveis [pelas lojas]. E é aí que a gente pode encontrar muito problema, principalmente atrelado à nossa vida moderna que é ar-condicionado, uso excessivo de telas e demanda pela nossa atenção, fazendo a gente piscar pouco”, complementa.
  • Fazer pausas em situações longas de muita atenção: seja no trabalho, ou vendo séries ou lendo nos momentos de descanso, as pausas são essenciais para o olho piscar.
  • Tratar a doença autoimune: nesses casos, é essencial seguir a orientação do médico para administrar os sintomas da doença autoimune que causa o ressecamento dos olhos.

Olho seco por levar a casos graves, como uma eventual cegueira?

Existem algumas doenças reumatológicas graves que causam quadros mais severos de olho seco e que podem, sim, levar a complicações na córnea, como uma ceratite (inflamação na córnea) ou uma úlcera.

Outras situações causadas pelo mau uso da lente de contato também podem lesionar a córnea, explica a médica.

“A córnea tem uma defesa, que é a dor. Quando a gente sente algum tipo de dor, ou sensação de um corpo estranho, é que ela está machucada, mas os usuários de lentes de contato acabam tendo uma córnea mais ‘anestesiada’, e isso é uma defesa do corpo para tolerar a presença da lente de contato ali. Então essas pessoas acabam não sentindo os sintomas de dor quando ocorre alguma lesão na córnea, que passa por uma denervação. E é aí que mora o perigo, porque algumas vezes ela está machucada. E a pessoa não está sentindo porque está nesse estágio de dessensibilizado”, alerta a especialista.

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