O número de pessoas que deixam de comer carne e aderem à alimentação vegetariana cresce no mundo. Segundo pesquisa do Ibope Inteligência de 2018, 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos.
Levantamento do Instituto Global Data, divulgado pela Revista Forbes, apontou que 70% da população mundial está reduzindo ou pretende deixar de consumir carne.
A tendência é puxada pelos millennials, jovens nascidos entre 1980 e o início dos anos 1990. Essa geração conta com grande quantidade de informações, sobretudo na internet, e se preocupa com o impacto da alimentação na saúde e no meio ambiente.
Atentos a essas mudanças de hábitos, que tendem a se propagar pelas novas gerações, diversos países disponibilizam guias alimentares para crianças vegetarianas.
Estados Unidos, Canadá, Austrália e Reino Unido são alguns deles. Em 2019, o governo brasileiro também incluiu recomendações em um guia para crianças com menos de dois anos.
Para que se desenvolvam normalmente, o desafio é fazer que os pequenos se habituem, desde cedo, a uma alimentação diversificada.
O que não pode faltar na alimentação vegetariana infantil
Assim como recomendado para os adultos que não comem carne, uma alimentação completa para crianças vegetarianas ou veganas (não consomem nada de origem animal) deve conter cereais (ex: arroz, milho, quinoa, macarrão), leguminosas (ex: feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha), verduras, legumes e frutas.
Esses alimentos devem ser combinados nas refeições ao longo do dia. Castanhas e sementes (ex: abóbora, girassol, chia e linhaça) complementam a oferta proteica dos veganos.
Os vegetarianos também contam com derivados do leite e ovos como fonte de proteína.
Quanto mais variada for a dieta infantil, melhor. “Deve-se ter atenção especial aos nutrientes como cálcio, presente em alimentos como tahine, brócolis, feijão branco, e ômega-3, presente na chia, nas sementes e no óleo de linhaça”, ressalta a nutricionista Jacqueline Wahrhaftig, da Alice.
O prato infantil, segundo a nutri, deve seguir a seguinte proporção: ⅓ de legumes e verduras preferencialmente cozidos, ⅓ de leguminosas (ex: feijão carioca, ervilha, lentilha, feijão azuki, tofu) e ⅓ de cereais e raízes (ex: arroz, quinoa, milho, batatas, mandioca, inhame).
“A quantidade varia de acordo com a idade, mas é importante reforçar que as crianças têm capacidade de determinar a sua fome e saciedade. Pais e cuidadores devem respeitar e confiar no quanto a criança aceita do prato. Isso estimula a autonomia dela”, destaca Wahrhaftig.
Suplementação de vitaminas é necessária na 1ª infância
Pesquisas científicas apontam que é possível ter uma alimentação vegetariana de qualidade na infância, se houver conscientização sobre os aportes nutricionais necessários e suplementação correta.
Um estudo feito na Finlândia mostrou que as famílias veganas de lá estão bem conscientes sobre as exigências nutricionais. Mesmo assim, as crianças analisadas apresentaram deficiência de vitaminas A e D.
Outra pesquisa concluiu haver menor risco de problemas cardíacos em crianças veganas, mas identificou diversas carências nutricionais.
“Deficiência de vitamina B-12, anemia por deficiência de ferro, ferritina baixa e HDL (bom colesterol) baixo foram mais prevalentes em veganos, que também tiveram a prevalência mais baixa de LDL (colesterol ruim) alto”, concluíram os pesquisadores. Eles destacaram que a suplementação resolveu as baixas concentrações de B12 e de vitamina D.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda suplementação de ferro para todas as crianças em aleitamento materno exclusivo, a partir do 6° mês de vida até os dois anos. Depois disso, a complementação de ferro deve ser feita com base nos exames laboratoriais e na avaliação clínica.
A SBP também orienta suplementar a vitamina D até os 18 meses de vida em crianças em aleitamento materno que tenham restrição de exposição ao sol e em crianças que recebam menos de 500 ml de fórmula infantil por dia.
Já a vitamina B12, encontrada apenas em alimentos de origem animal, deve ser suplementada desde a gestação e durante a amamentação. Isso porque é por meio da placenta e do leite materno que a criança recebe essa vitamina.
“Quando a mãe não tem bons níveis de B12, pode ser necessária suplementação para a criança. A suplementação em bebês vegetarianos é geralmente recomendada a partir da introdução alimentar, ou seja, a partir dos seis meses de vida. A avaliação e prescrição deverá ser feita pelo pediatra ou pelo nutricionista”, destaca Jacqueline Wahrhaftig.
O ômega-3, normalmente associado ao consumo de peixes, também pode ser encontrado em fontes vegetais. “O ômega 3 de origem vegetal chama-se ALA e será convertido no corpo em EPA e DHA (outros tipos de ômega 3) para cumprir as suas funções. Para que essa conversão aconteça de forma adequada, é interessante que a criança consuma de 2 a 4g de ALA por dia”.
O ômega-3 ALA pode ser encontrado em chia, nas nozes e na linhaça. A fonte vegetal mais rica em ômega-3 é o óleo de linhaça, sendo que em apenas uma colher de chá há 2,7g de ALA.
“O óleo de linhaça pode ser incluído na refeição da criança no almoço e no jantar. Além de consumir a quantidade correta de ômega- 3, é importante haver uma boa relação entre ômega-3 e ômega-6, para que a transformação de ômega-3 em EPA e DHA aconteça. Para isso, é interessante diminuir o consumo de óleos extraídos do milho ou do girassol (mais ricos em ômega-6) e dar preferência ao azeite (que é um tipo de gordura mais neutra que não afeta essa conversão)”, recomenda a nutricionista.
Estratégias para alimentação saudável infantil
Por mais que os pais tentem tornar a refeição dos filhos a mais nutritiva possível, nem sempre as crianças querem comer o que é colocado no prato. Grande parte torce o nariz para legumes e verduras e não quer sequer provar os vegetais.
A recomendação, nesse caso, é usar a criatividade, ter paciência e não desistir de proporcionar refeições saudáveis.
Envolver as crianças, desde a compra no mercado até a preparação dos alimentos na cozinha, pode ajudar a romper resistências.
Oferecer a comida em diferentes formatos também é uma estratégia para aumentar a aceitação pelas crianças.
“Os pais não podem deixar de oferecer os alimentos, mesmo aqueles que a criança não gosta tanto. Mas nunca devem forçar o consumo”, pondera a nutricionista Jacqueline Wahrhaftig.
14 dicas para melhorar a alimentação da criança
- Quando possível, leve a criança ao mercado ou à feira e tente envolvê-la na escolha dos legumes, verduras e frutas;
- Incentive a criança a “explorar” os alimentos com os outros sentidos: visão, olfato e tato;
- Pesquise receitas com a criança para incluí-la na preparação dos alimentos;
- Faça um cardápio semanal bem colorido com o seu pequeno, incentivando-o a variar a escolha dos alimentos nos diferentes dias;
- Varie a forma de cortar e servir os alimentos;
- Ofereça a possibilidade de a criança fazer escolhas ao compor o prato;
- Monte o prato de uma maneira atraente e divertida;
- Crie nomes para os pratos ou receitas para despertar a curiosidade da criança;
- Lembre-se de que opções não muito populares entre as crianças, como folhas escuras ricas em cálcio e ferro (couve, agrião e rúcula), podem ser oferecidas na forma de sucos, bolinhos ou sopas;
- Inclua as pastinhas vegetais nas opções de refeição ou lanche: tahine (gergelim) e homus (grão de bico);
- Torne a comida acessível: deixe frutas e hortaliças já lavadas e cortadas ao alcance da criança, na fruteira ou na geladeira;
- Evite oferecer alimentos e bebidas industrializadas;
- Utilize jogos educativos e livros para falar de alimentação saudável de forma lúdica;
- Dê o exemplo e procure fazer uma refeição balanceada sempre, sobretudo quando estiverem comendo em família.
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