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Crise de meia-idade é real? Quais os sintomas?

A crise de meia-idade pode ser real, sim. Confira os principais sintomas, causas e o que pode ser feito para melhorar esse período.

Crise de meia-idade é real? Quais os sintomas?

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A cultura pop nos fez acreditar que a crise da meia-idade envolveria quase que obrigatoriamente a cena de um homem mais velho dirigindo um carrão esportivo ou uma mulher passando por uma mudança brusca na aparência física, como um corte de cabelo inovador – ambos em busca de uma suposta juventude perdida.

No entanto, para além dos clichês do cinema e da literatura – quem se lembra da protagonista do filme e livro “Comer Rezar Amar”, de 2010? –, a crise da meia-idade pode ser real, sim.

Crise de meia-idade é real?

O termo foi cunhado por um psicólogo canadense chamado Elliott Jaques, nos anos 1960, após uma análise dos problemas comuns de quem estava na faixa de idade que ia, em média, dos 40 até os 65 anos. Com o aumento geral da expectativa de vida, essa faixa tende a ser mais elástica atualmente.

Em seus estudos, Jaques observou uma queda na produtividade e no bem-estar entre os indivíduos daquela faixa etária. E descreveu uma espécie de “corrida contra o tempo” que essas pessoas pareciam estar vivendo devido à idade.

Ou seja, apesar de supostamente estarem vivenciando o ápice de suas vidas profissional e financeira, ao mesmo tempo em que gozavam de relativa boa saúde, esses adultos já passariam a se deparar com algumas questões de finitude da vida e de sonhos que deixam um gosto amargo na boca.

“A crise afeta tanto homens quanto mulheres por diversos motivos, mas aqui vale ressaltar que a crise da meia-idade é um termo do senso comum. Ela não é comprovada em termos científicos, e não temos hoje descrita nem no CID [Classificação Internacional de Doenças] e nem no DSM [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais]”, explica Amanda Severo Lins Vitta, psicoterapeuta da Alice especializada em terapia cognitivo-comportamental.

Sendo assim, Vitta complementa, há uma escassez de produção acadêmica sobre o tema, apesar de existirem alguns artigos relacionando a faixa etária em questão com alguns sintomas físicos, cognitivos, comportamentais e emocionais semelhantes a ansiedade e depressão.

Curva da felicidade

Um artigo  lançado por dois economistas em 2007 analisa dados de meio milhão de americanos e europeus e conclui que a curva de felicidade na vida das pessoas assume um formato de “U”: ela é alta enquanto somos jovens, tende a atingir os piores níveis na metade dos 40 anos até o final dessa década, e depois volta a subir.

À época, um dos autores David Blanchflower teve suas conclusões contestadas por psicoterapeutas (muitos negam o conceito de crise da meia-idade como um todo), mas não desistiu da tese. Em 2020, decidiu ampliar seus estudos por 132 países e lançou um novo artigo, confirmando a ideia inicial da felicidade em “U”.

O que causa a crise da meia-idade?

Há muitos motivos apontados pelo economista que explicam tal declínio no bem-estar, desde os efeitos físicos do envelhecimento do corpo até o estresse e as pressões de sustentar uma família, passando pelo fim de alguns sonhos e ilusões nutridos na juventude.

No entanto, uma vez que a pessoa se acostuma ao “choque inicial” do envelhecimento, ela passaria a querer aproveitar ao máximo o tempo que lhe resta de vida, fazendo a curva da felicidade subir novamente.

Para a psicoterapeuta Amanda Vitta, o termo “crise da meia-idade” está voltado muito mais para questões sociais do que biológicas.

“Somos seres bio-psico-sociais, e na nossa cultura predominam a juvenilidade e a produtividade. Com a idade, por questões biológicas, o nível de produtividade diminui, a figura do corpo físico novo e ideal se altera. Por esses motivos, para algumas pessoas, é uma fase delicada”, diz.

Questões fisiológicas, como a menopausa, acontecerão independentemente de a pessoa estar ou não na chamada “crise da meia-idade”, já que somos seres bio-psico-sociais. O pulo do gato é como cada um vai lidar com cada situação visto que, de modo geral, essa faixa etária também corresponde a um fechamento de ciclo, trazendo uma espécie de “luto“.

“Diferentemente do que muitos pensam, o luto não é só quando existe a morte. O luto ocorre em fechamentos de ciclos. Como já dito sobre a questão da nossa cultura, essa é a idade em que a maioria já está casada e com filhos, pois é o ‘esperado’. Também é uma idade em que acontecem as mortes, além de questões profissionais e insatisfações amorosas. E aqui começam alguns questionamentos disfuncionais”, explica Vitta.

Quais são os sintomas da crise de meia-idade?

  • Exaustão ou tédio com a vida;
  • Questionamento sobre atitudes do passado;
  • Dúvidas sobre qual o sentido da vida;
  • Raiva e irritabilidade;
  • Mudanças bruscas na ambição;
  • Desregulação do desejo sexual;
  • Em casos mais graves, abuso de álcool ou de outras substâncias psicoativas.

A psicoterapeuta explica que, em sua prática, os sintomas tendem a ser semelhantes entre homens e mulheres dessa faixa etária. “Para lidar com os sintomas, precisamos contextualizar o que cada indivíduo está pensando sobre essa fase da vida. A Terapia Cognitivo Comportamental se baseia na hipótese de que as emoções e os comportamentos são influenciados pelas percepções que cada pessoa tem dos eventos. Em outras palavras, a maneira que pensamos sobre as situações afeta nossas emoções e comportamentos, e é aqui que começam os transtornos mentais. Por isso, avaliar o conteúdo cognitivo é importante para uma vida mais equilibrada”, explica Vitta.

Quando procurar ajuda?

Toda vez que o pessoa perceber alguma disfuncionalidade na sua rotina, um alerta deve acender, e ela deve procurar ajuda, explica a psicoterapeuta Amanda Vitta.

“Quando você perceber que está em sofrimento, com dificuldade de fazer as coisas básicas ou mesmo gastando mais energia para manter uma rotina, para trabalhar, para tomar banho, ou seja, tudo que fugir do padrão… você deve procurar ajuda de um profissional da área de psicologia”, conclui.

Amigos e familiares no entorno, por sua vez, devem procurar entender o sofrimento psíquico pelo qual o outro está passando, exercendo a empatia.

“Para lidar com a depressão, é extremamente importante incentivar atividades prazerosas e de lazer, além de ajudar com a autoestima. Pessoas nessa faixa etária em questão têm uma tendência à perda da autoestima, questionando se ainda é bonita, desejada etc.”

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