Causada por um vírus da mesma família da varíola humana (doença erradicada com a vacinação na década de 1980), a monkeypox, ou varíola dos macacos, passou a ser motivo de preocupação com o aumento recente de casos no Brasil e no mundo – justamente num momento de abertura após dois anos de isolamento na pandemia de covid-19.
E já te adiantamos: não há motivo para pânico, a doença não se espalha tão facilmente assim –é principalmente pelo contato com lesões cutâneas e por via sexual–, mas é bom saber quais cuidados tomar.
A monkeypox gera erupções na pele que podem doer e coçar, além de febre e mal-estar, mas felizmente tende a se resolver sozinha, e sem muitos problemas, na maior parte dos casos.
O primeiro caso da doença foi identificado no Brasil em maio, e desde então o país já registrou cerca de 1.369 ocorrências confirmadas da doença, sendo três delas em crianças, e 616 suspeitas até o início de agosto.
No dia 23 de julho, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a varíola dos macacos como uma emergência de saúde pública e interesse internacional. E o que isso significa?
É preciso atenção por parte dos países, com notificação e rastreio de casos, mas não houve mudança na categoria da doença: ela ainda é considerada um surto (aumento localizado do número de casos da doença) e não uma epidemia (aumento em diversas regiões, mas sem níveis globais) ou pandemia (aumento dos casos em escala global).
Segundo a OMS, a taxa de mortalidade pode ser de 1% a 10%, dependendo de diferentes fatores, como o acesso à saúde. No caso da covid-19, por exemplo, a taxa de letalidade é de 2%, segundo o Ministério da Saúde, e a varíola humana poderia chegar a 30%.
Como costuma ocorrer também no caso de outras doenças (como a gripe), algumas pessoas com o sistema imune mais frágil têm maior risco de complicações. É o caso de:
- Crianças;
- Gestantes;
- Pessoas no puerpério (período de 40 dias após o parto);
- Lactantes (período de amamentação);
- Pessoas com problemas no sistema imunológico (quem passou por transplantes de órgãos ou está sob tratamento oncológico, por exemplo. São os chamados imunodeprimidos).
O Brasil foi um dos primeiros países a notificar uma morte pela doença, segundo registro do Ministério da Saúde. Trata-se de um homem, de 41 anos, com histórico de tratamento oncológico e problemas na imunidade.
Quais os sintomas da varíola dos macacos?
Confira os sinais mais comuns da varíola dos macacos. Eles costumam surgir nesta ordem, embora possam aparecer em outras sequências:
- Febre;
- Mal-estar geral, com calafrios e dores de cabeça;
- Linfonodos aumentados e dor, seja na região do pescoço, atrás da orelha, na axila e/ou região inguinal;
- Surgimento das lesões de pele, que se iniciam como manchas que se elevam, formando uma pápula e, depois, uma bolha, que se rompe e forma uma crosta;
- Dor ou prurido (coceira) na região das lesões.
Os primeiros sintomas são mal-estar geral e febre, geralmente. Em cerca de três dias, a doença manifesta o sintoma mais característico, com as erupções ou lesões cutâneas.
Essas lesões se iniciam como manchas que se elevam. Na sequência, surge uma bolha (com fluídos, pus ou sangue) que mais tarde se rompe, criando uma crosta.
Elas podem aparecer em diferentes partes do corpo, sendo mais comuns no rosto, na palma das mãos, na sola dos pés, nos olhos, boca, garganta, virilhas e regiões genital ou anal.
De acordo com informações da OMS, o número de lesões varia de apenas uma a centenas.
Os sintomas tendem a durar entre duas e três semanas, e a pessoa continua transmitindo o vírus até que as crostas das lesões caiam e uma nova camada de pele se forme.
O que eu devo fazer para me proteger da monkeypox?
1) Evite contato de pele ou de mucosas com as lesões
O contato da pele, ou de mucosas, com as lesões cutâneas causadas pela doença é a principal forma de transmissão do vírus da monkeypox. Qualquer situação que favoreça esse contato – especialmente por um tempo prolongado – deve ser evitada.
As lesões cutâneas formam fluídos, como pus ou mesmo sangue, que contêm o vírus e, por isso, são infecciosos. Evitar o contato físico próximo de alguém com esses sintomas é uma das principais medidas de proteção.
2) Limite o número de parceiros(as) sexuais
Em 95% dos casos de monkeypox, a principal suspeita de transmissão do vírus é via relações sexuais, de acordo com estudo divulgado pela revista científica The New England Journal of Medicine no dia 21 de julho. Para chegar ao dado, os pesquisadores analisaram 528 infecções, registradas entre abril e junho, em 16 países diferentes.
“A transmissão ocorre por um contato íntimo e por um período prolongado. Por isso se destaca a relação sexual”, explica Igor Thiago Queiroz, médico infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Embora o vírus tenha sido encontrado no sêmen, ainda não se sabe se há transmissão da doença por meio deles ou dos fluídos vaginais, segundo a OMS.
Quanto maior for o tempo de contato com a pele lesionada, maior o risco, de acordo com Larissa Gouveia, médica infectologista que faz parte da Comunidade de Saúde da Alice. “Se a pele estiver íntegra, o risco é um pouco menor. O risco maior será em contato com a lesão ou com a secreção. Apesar de não ser considerada uma infecção sexualmente transmissível, a via sexual acaba sendo preocupante.”
A recomendação vale para todos os gêneros, independentemente de orientação sexual.
3) Fique atento aos sinais e ao período de transmissão
Larissa Gouveia reforça que a monkeypox pode ser transmitida mesmo no momento em que a lesão se transforma em uma casca. “A transmissão só acaba totalmente quando a pele fica lisa novamente”, diz.
Pessoas com lesões devem ficar em isolamento, o que pode levar de 21 a 28 dias.
4) Tome cuidado com a higiene das mãos e dos objetos
Higienizar as mãos com álcool 70% ou com água e sabão é uma medida importante de prevenção, assim como evitar compartilhar objetos, incluindo roupas de cama e toalhas, de acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Urologia.
Redobre a atenção ao cuidar de alguém com suspeita ou confirmação para a doença. Neste caso, vale o uso da máscara e muita cautela caso precise encostar em objetos de uso pessoal, como a roupa de cama, que podem conter o vírus.
“No momento de retirar o lençol, é preciso cuidado para não chacoalhar a peça, espalhando o vírus pelo ar. Vale adotar uma limpeza úmida no quarto, com um pano com água sanitária ou cloro, e evitar o uso da vassoura seca. Quem fizer a higienização do quarto também deve usar máscara”, explica Erna Kroon, professora titular do departamento de microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Como o vírus é sensível à luz, a professora também sugere a abertura de janelas para a entrada do sol e circulação.
5) Cubra braços e pernas em locais com aglomeração e contato pele a pele
Em ambientes com intensa aglomeração de pessoas que estejam com partes do corpo descobertas (como transporte público, shows, estádios de futebol), é recomendável tomar mais cuidado. Se houver o risco de que sua pele esteja em contato constante, e por um tempo prolongado, com a pele de pessoas desconhecidas, é prudente cobrir braços e pernas.
A monkeypox é transmitida durante o contato sexual?
As relações sexuais são a principal via de transmissão da varíola dos macacos, de acordo com os dados disponíveis até o momento, mas não são a única forma de encontrar o vírus.
Contatos mais demorados com as peles lesionadas ou com as secreções (pus, sangue ou fluídos das lesões) geram um risco de transmissão – apesar de serem casos mais incomuns.
Também é importante prestar mais atenção quando estiver muito perto de pessoas sem a certeza de que estejam saudáveis, com contato por beijo ou com partes do corpo descobertas e se encostando.
A varíola dos macacos é uma Infecção Sexualmente Transmissível?
A doença não é considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST) tal qual é a aids/HIV, sífilis, gonorreia ou hepatite B, até o momento. O uso de preservativos, ou camisinhas, como única forma de prevenção não protege contra a doença porque o contato pele a pele – e com as secreções das lesões – independe do item.
Mas, em nota técnica divulgada na segunda-feira (1º), o Ministério da Saúde recomenda o uso dos preservativos nas relações sexuais para gestantes, puérperas e lactantes – grupos considerados de maior risco para complicações da doença –, como uma forma a mais de prevenção.
Existe risco pela via respiratória?
É possível, segundo as profissionais de saúde, entrar em contato com a monkeypox pela via respiratória, assim como acontece na covid-19. O risco, porém, é menor.
“Diferentemente da covid-19, na varíola dos macacos tem que ser uma exposição mais prolongada. Não basta ter um contato rápido, mas é preciso ficar a uma distância próxima, sem máscara, e por um tempo, para transmitir. Se for um contato mais curto, o risco é menor”, explica Gouveia.
A infectologista lembra que, no caso dos profissionais de saúde que fazem a coleta das secreções das lesões para o diagnóstico da condição, a ameaça é maior e eles devem utilizar máscaras faciais nestes momentos.
“Há formas de coletas por meio de um swab, como no caso da covid-19, nas lesões, mas no Brasil usa-se um bisturi, e a casca da lesão é retirada, o que pode gerar aerossóis [micropartículas] e, às vezes, ser uma forma de transmissão”, alerta.
Qual o impacto da monkeypox para homens que fazem sexo com homens?
No estudo divulgado pela revista científica The New England Journal of Medicine, os pesquisadores observaram um perfil comum à maioria dos registros da monkeypox. Em 98% dos casos, os pacientes eram homens gays ou bissexuais.
Essa associação também é destacada pela OMS. Durante a entrevista coletiva em que declara a monkeypox uma emergência de saúde pública, o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que, neste momento, o surto da doença se concentra entre homens que fazem sexo com homens, especialmente aqueles com múltiplos parceiros sexuais – o que pode aumentar o risco de contato com as lesões da doença.
Isso não significa que o vírus só atinja esses grupos – inclusive, já há o registro de três crianças diagnosticadas com a infecção em São Paulo e duas nos Estados Unidos,.
“Não é uma doença exclusiva de homens gays e bissexuais, porque há crianças e mesmo animais que podem pegar também. Mas, no contexto deste surto, teve a associação com relações sexuais pelo contato com as lesões e as secreções”, explica Larissa Gouveia, infectologista.
Entidades como a AIDS Healthcare Foundation (AHF), maior organização não governamental global em prol da prevenção, diagnóstico e tratamento da aids, destacam o risco do estigma. Em uma publicação no site da fundação no Brasil, eles reforçam a importância de que a sociedade conheça e entenda a doença, para evitar a desinformação e o preconceito de grupos mais vulneráveis.
“O que se quer é evitar o surgimento de um estigma sobre a doença, como o que aconteceu há 41 anos, quando começaram a aparecer os primeiros casos de aids. Na ocasião, o HIV, vírus causador da síndrome, incidia exclusivamente em homens homossexuais. Nos anos seguintes, embora a enfermidade avançasse em outras populações, o preconceito atrasou brutalmente a prevenção entre os novos grupos expostos”, alertam.
A infectologista lembra também que esse não é o primeiro surto da monkeypox – doença que é considerada endêmica em alguns países do continente africano, como Camarões, República Democrática do Congo e República do Congo, Gabão, Gana, Costa do Marfim, Nigéria, Libéria, República Centro-Africana e Serra Leoa – e que, em outros momentos, havia outras formas de transmissão e grupos com maior prevalência.
“Houve surtos da doença associados à transmissão por roedores, que é um dos animais que pode transmitir o vírus. Uma pessoa importou ou comprou um animal que estava contaminado, e toda a família pegou”, exemplifica a infectologista.
Segundo Gouveia, a comunidade científica também não sabe ainda se o vírus que está gerando o surto atual é exatamente o mesmo dos casos anteriores, ou se passou por alguma mutação que facilite a transmissão – visto que o número de casos, agora, tem sido superior.
“Vemos também casos que não têm os sintomas clássicos, como a febre, dor no corpo, as ínguas inchadas e, depois, as feridas. Tem vários pacientes que nem tiveram febre, apenas um mal-estar. Já atendi um paciente que começou com as lesões e apenas cinco dias depois desenvolveu a febre”, afirma a médica.
O que fazer caso tenha contato com alguém com monkeypox?
O primeiro passo é monitorar os sintomas, especialmente a febre e o surgimento de erupções cutâneas, durante 21 dias após a exposição à doença. De acordo com informações da nota técnica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é recomendada a medição da temperatura corporal duas vezes por dia, pelo período.
Isso porque a febre tende a surgir cerca de três dias antes das lesões, segundo Kroon, embora nem sempre seja um indicador. “Há casos em que as lesões aparecem primeiro”, explica.
Caso o indivíduo apresente outros sintomas – como mal-estar, dores ou inchaço dos linfonodos, além da febre – ele deve se isolar e procurar pelas lesões cutâneas nos próximos sete dias. Se nada surgir, basta monitorar a temperatura pelos 21 dias restantes. Como a monkeypox também pode ser transmitida por via respiratória, é importante evitar o contato próximo com outras pessoas até que os sintomas desapareçam, mas não precisa ficar totalmente isolado.
Se as lesões aparecerem, pode ser considerado um caso suspeito. Além do isolamento (até que a pele retome a aparência normal), é indicado exame de coleta das lesões para análise em laboratório e confirmação do diagnóstico.
Pessoas assintomáticas, mas que tiveram contato com a doença, precisam monitorar os sintomas e não devem doar sangue, célula, tecidos, órgãos, leite materno ou sêmen durante o período de monitoramento. O período de incubação do vírus, nestes casos, é de seis a até 21 dias, segundo o Ministério da Saúde, o que demanda atenção no contato com outras pessoas durante o período, mas não isolamento total.
A Varíola dos macacos tem cura?
Assim como outras infecções causadas por vírus, como o resfriado e a catapora, a varíola dos macacos segue o próprio curso e, na maior parte dos casos, termina sem problemas.
Para alívio dos sintomas, podem ser indicados medicamentos contra a febre, dores ou coceira das feridas. Há remédios que atuam contra o vírus, como o tecovirimat e o cidofovir, mas ainda não estão disponíveis no Brasil.
De acordo com uma publicação feita nesta segunda-feira (1º) no perfil do Twitter do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o Brasil receberá o antiviral tecovirimat, por intermédio da OPAS (Organização Pan-americana de Saúde), para uso em casos mais graves.
O medicamento pode reduzir os sintomas e o tempo de transmissão da doença, mas não se sabe ainda quando chegarão ao país, ou qual será a quantidade disponibilizada à população.
Vacinas contra monkeypox
Existem vacinas que podem proteger contra a varíola humana e, ao mesmo tempo, contra a monkeypox, já que se tratam de vírus da mesma família. Uma delas é o imunizante JYNNEOS (também chamado de Imvamune ou Imvanex), produzido pela farmacêutica Bavarian Nordic.
A OMS não recomenda a vacinação em massa da população neste primeiro momento, apenas para grupos em maior risco.
Embora tenha recebido a aprovação de uso pelas agências reguladoras dos Estados Unidos e da União Europeia, a vacina não tem sido produzida em larga escala há anos – visto que a varíola humana foi erradicada via vacinação.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o imunizante JYNNEOS é oferecido ao lado de outro (ACAM2000, aprovado primeiramente para a varíola humana) para casos pessoas que tiveram contato com o vírus.
A estratégia, de acordo com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), visa prevenir o desenvolvimento da doença a partir de uma profilaxia pós-exposição – como é feita contra o HIV, em alguns casos. Quando houver mais doses disponíveis, outros grupos poderão ser contemplados.
No Brasil, não há imunizantes específicos disponíveis no momento, mas há previsão de que 20 mil doses cheguem ao país em setembro e mais 30 mil em outubro, adquiridas via convênio com a OPAS.
A princípio, os imunizantes, aplicados em duas doses com intervalo de 30 dias, serão destinados a profissionais de saúde em contato com as amostras de pacientes e a pessoas que tiveram contato com indivíduos diagnosticados.
Veja também: O que fazer para fortalecer a imunidade?
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