A notícia da gestação traz uma série de questionamentos e novos conhecimentos para os pais de primeira viagem. Uma das grandes expectativas é pela data de nascimento.
Durante décadas, o desconhecimento sobre o período final da gestação induziu o comportamento da cesariana eletiva, considerando que a escolha da data não seria prejudicial para o bebê e para a mãe.
Astros, signos, coincidências de datas ou festas de final de ano eram usados como justificativas para marcar um dia específico para o nascimento do bebê.
A lista de razões para substituir o ato fisiológico pelo procedimento cirúrgico é imensurável, especialmente no Brasil, que ocupa o topo dos rankings de cesariana no mundo.
O que é a Gravidez “a termo”?
Há algumas décadas, gravidez era considerada a “termo” entre 37 e 42 semanas, ou seja, com o bebê nascendo durante o espaço dessas cinco semanas, o resultado de saúde para ele e para a mãe seria o mesmo.
O período foi alterado ao longo dos anos pelos órgãos internacionais, que identificaram que as cinco últimas semanas de gestação não são iguais. Cada dia a mais, até o início da 42ª semana, pode contar e trazer impactos para a saúde da mãe e recém-nascido.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo lançaram neste ano um estudo sugerindo uma métrica inédita para trazer mais insumos à Ciência sobre o final da gestação.
O documento “Dias potenciais de gravidez perdidos” confirma que cada dia da gestação conta para assegurar o desenvolvimento materno-infantil e motivando que os últimos dias da gestação sejam contados em dias, além das semanas.
O estudo sugere que a contagem de dias influencia positivamente na saúde do bebê e da mãe, ao trazer maior possibilidade de prever o amadurecimento do feto e dos desfechos de saúde. A análise foi feita em conjunto com a Prefeitura Municipal de São Paulo e com dados nacionais do Ministério da Saúde.
O objetivo do estudo foi demonstrar que a contagem em dias pode ser oportunidade para monitorar os efeitos do encurtamento da gestação e da cesariana eletiva a longo prazo, auxiliando em políticas públicas e endossando a importância do desencadeamento natural do parto.
“O que sabemos hoje é que as mães que esperam esse desencadeamento natural promovem uma oportunidade do bebê nascer com maturidade fetal, um importante fator que traz benefícios clínicos ao longo da vida do bebê desde o nascimento até o seu desenvolvimento durante a infância”, explica o pediatra Daniel Rocha, da Alice.
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A cesariana ou Parto Cesário
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o Brasil tem uma taxa de mais de 50% de nascimentos de cesariana, ou seja, elas superam os partos naturais.
Hoje, a Ciência entende que a relação de agendamento e antecipação do parto é prejudicial quando não é consequência de uma situação médica. A estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) é que apenas de 10 a 15% dos partos têm a prescrição do procedimento cirúrgico.
Quando a proporção de cesarianas em uma população ultrapassa essa porcentagem, suas desvantagens tendem a superar os potenciais benefícios para mães e bebês, especialmente quando realizadas antes do início espontâneo do trabalho de parto e das 39 semanas completas de gestação.
A cesariana é recomendada por motivos médicos, identificados durante o pré-natal e no momento do parto, para assegurar o bem-estar da mãe e do bebê, reduzindo a mortalidade e riscos à saúde.
Por outro lado, não há evidências científicas de que fazer a cesariana com adiantamento ou agendamento do parto traga benefícios. Diferentes estudos apontam que escolher a data de nascimento pode criar riscos desnecessários e trazer efeitos negativos para a saúde do bebê e da mãe.
O pediatra Daniel Rocha explica que o trabalho natural de parto evita um efeito de bola de neve na saúde do bebê e no desenvolvimento da criança.
“Quando há espontaneidade no parto, significa maior chance do bebê nascer com os órgãos maduros e de poder se alimentar, manter sua temperatura corporal e não ter desconfortos respiratórios, situações que ajudam na adaptação à vida fora do útero que trazem benefício para o recém-nascido e para a mãe”, detalha.
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Como é o protocolo atual do período gestacional?
Atualmente, de modo geral, as evidências científicas mostram que o período “a termo” pode ser dividido em três fases:
- O termo precoce (entre 37 e 38 semanas e seis dias);
- O termo pleno (39 a 40 semanas e seis dias);
- O termo tardio (41 a 42 semanas).
Cada situação tem um potencial desfecho de saúde.
Desde 2013, a partir de estudos do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, o CFM (Conselho Federal de Medicina) adotou o marco de 39 semanas por ser o período em que se inicia a gestação a termo.
Com as mudanças do significado do “a termo”, o CFM também alterou os protocolos de cesariana, considerando que é ético o profissional de saúde atender à vontade da gestante de realizar parto cesariana, contudo o procedimento eletivo só pode ser realizado após 39 semanas de gestação.
Essa mudança se dá por diferentes estudos que identificaram variações neonatais, especialmente, com efeito negativo à saúde respiratória do bebê. E é o que dá origem às discussões entre gerações sobre os benefícios e diferenças entre a cesariana e parto normal.
“Sabemos que o agendamento do parto é benéfico para situações específicas de saúde. E que, feito fora destas condições, há uma lista de efeitos negativos que podem acontecer, em especial, o desconforto respiratório do recém-nascido, que pode impactar o bebê e a criança durante sua infância”, explica Daniel Rocha.
E o que pode mudar no protocolo atual?
A maior preocupação da medicina é compreender quais são os parâmetros, sinais e condições que podem definir que os bebês cheguem ao máximo de sua maturidade fisiológica durante a gestação e os efeitos positivos e negativos do nascimento.
Por isso, cada vez mais há mudanças na classificação e nos parâmetros de saúde que determinam os últimos 35 dias de gravidez, para que cada vez mais mães possam ser beneficiadas pelo conhecimento da medicina diante do amadurecimento fetal.
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