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Comunicação não violenta no trabalho: o que é e como aplicá-la

Com foco na colaboração e na observação de necessidades, essa prática de linguagem e autoconsciência favorece a harmonia nas relações.

Comunicação não violenta no trabalho

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Quando o assunto é comunicação não violenta, algumas reflexões são necessárias.

Quantas vezes, em uma reunião de trabalho, alguém te interrompeu sem que você tivesse completado o raciocínio? 

E quantas vezes você deixou de prestar atenção ao que o colega dizia porque teve uma ideia e não via a hora de contar ao grupo? 

Atitudes impulsivas comprometem a comunicação no ambiente de trabalho. Sem que a gente se dê conta, em muitos momentos agimos de maneira desrespeitosa ou com impaciência.

Isso porque temos necessidades subjetivas, como mostrar que somos capazes ou garantir que estamos certos. Frequentemente, encaramos uma conversa profissional com a lógica pré-programada de “ganhar ou perder”.

Sair do “piloto automático” para encontrar um caminho de mutualidade, em que todos possam ganhar, é uma das propostas da Comunicação Não Violenta (CNV). 

“A essência da CNV é a colaboração. Temos de buscar uma postura que não seja de escutar para responder. Mas sim de escutar para compreender”, afirma Jade Arantes, treinadora e cofundadora do Instituto CNV Brasil. 

O que é a comunicação não violenta?

Concebida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg em 1960, a comunicação não violenta consiste em saber se expressar e ouvir com compaixão. 

É um modo de pensar e de viver que busca estabelecer conexões sinceras por meio da cooperação e da empatia, o que pressupõe respeito à perspectiva do outro.  

O ponto de partida dessa filosofia está na percepção das necessidades internas que guiam o comportamento humano. 

Quatro emoções básicas – raiva, medo, tristeza e alegria – originam diversas sensações. Achar que foi atacado, diminuído ou ignorado são algumas delas. 

Nossas ações também podem ser impulsionadas por carência de descanso físico e mental, falta de apoio ou desejo de reconhecimento. 

“Por trás de todo comportamento humano existe uma necessidade. Quando percebemos que são essas energias que estão nos motivando e motivando o outro, abre-se um espaço de realidade compartilhada e de conexão nas relações”, afirma Jade Arantes. 

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) listou as emoções mais percebidas no ambiente de trabalho. 

Dos dez estados emocionais com maior número de relatos, cinco corresponderam a sentimentos ligados a necessidades não atendidas, e os dois mais identificados foram ansiedade (52%) e cansaço (47%). 

Os estados emocionais menos citados foram segurança, calma, realização e satisfação, que seriam indicadores de necessidades atendidas. 

Os 4 passos da comunicação não violenta 

A comunicação não violenta é, ao mesmo tempo, uma prática de autoconsciência e uma ferramenta de linguagem baseada em quatro componentes. 

1º passo: observação

O primeiro deles é a observação. Devemos analisar as situações tentando separar o que realmente está acontecendo ou aconteceu de interpretações precipitadas, de ideias pré-concebidas ou de nossos gatilhos emocionais. 

Ter em mente que alguns aprendizados na infância se refletem na vida adulta facilita essa avaliação. Desde cedo, somos ensinados a mascarar nossas emoções, a achar culpados para justificar os problemas e a nos proteger de críticas. 

“A observação é uma prática de estarmos presentes momento a momento. Esse é um enorme passo para sairmos da reatividade e respondermos com consciência e escolha às situações à nossa volta”, afirma a treinadora. 

2º e 3º passos: sentimentos e necessidades

O segundo e terceiro componentes são os sentimentos e as necessidades. Algumas perguntas a se fazer é: como eu me sinto quando alguém age de determinada forma? Por que essa atitude mexe comigo? O que essa outra pessoa pode estar necessitando para agir assim?

4º passo: pedidos

O quarto elemento – pedidos – pressupõe como legítimo encontrar formas de suprir as necessidades identificadas. 

“O potencial da não violência está em buscar atender nossas necessidades em harmonia com as outras pessoas e não em detrimento delas. Nós, seres humanos, somos programados para nos sentirmos bem quando contribuímos uns com os outros. Pedir é dar a oportunidade ao outro de contribuir com a nossa vida”, avalia Jade Arantes.

Unindo os quatro elementos, uma maneira não violenta de reagir às situações é expressando-se assertivamente, para gerar compreensão e colaboração.

Veja um exemplo de como colocar a CNV em palavras:

“Quando eu vejo ___ [observação], eu me sinto ___ [sentimento]. É importante para mim ___ [necessidade]. Você estaria disposto a ___ [pedido]?” 

Como aplicar a comunicação não violenta no trabalho?

A CNV se aplica às mais diversas situações. Em casa, na interação com desconhecidos, em negociações e também no ambiente de trabalho. 

Uma mudança repentina na forma como nos comportamos pode causar certo estranhamento no início e nos levar a achar que as outras pessoas não estarão abertas à conexão.

Mas é importante considerar que, para ser efetiva, a CNV demanda tempo e prática. Por isso, a dica é começar a exercitá-la de maneira silenciosa. 

Tentar perceber os momentos e os fatores que levam à desconexão com outras pessoas, reconhecer gatilhos e planejar alternativas para adotar novas atitudes são um bom começo. 

Relembrar situações passadas que trouxeram sofrimento ou outros sentimentos é também uma forma de aprender com erros e acertos. 

No processo de reflexão, podemos fazer perguntas do tipo “Como posso agir quando algo semelhante acontecer?” ou “Como essa situação poderia ter sido mais promissora para mim e para os outros?”.

“A CNV nos possibilita fazer escolhas mais conscientes e conectadas com o que realmente importa, fortalecendo significativamente a autoempatia e a autocompaixão. O resultado disso é a apresentação natural de caminhos de autocuidado e alinhamento de nossos pensamentos, sentimentos e ações”, destaca Jade Arantes.

O desafio seguinte é trazer a nova maneira de pensar para o cotidiano. Uma forma de começar a verbalizar a CNV é usá-la no relacionamento com pessoas do nosso círculo mais íntimo, como marido ou esposa.

O ideal é que elas estejam cientes de como funciona esse modo de interação para que possam contribuir com o processo de aprendizado. 

No trabalho, as habilidades podem ser inicialmente aplicadas em situações simples, como tentar ser empático ao esclarecer uma dúvida ou mal-entendido.  

Para reuniões importantes, pode ser feito um preparo prévio, levando em conta comportamentos e situações que se repetem e causam desconforto. 

Durante o encontro em si, a dica é praticar a escuta ativa, sem interromper o interlocutor, e buscar compreender diferentes pontos de vista.  

Em momentos de tensão, a recomendação principal é dar uma pausa antes de reagir. Esse intervalo permite avaliar as emoções envolvidas, identificar necessidades e formular pedidos. 

Para que as solicitações não sejam vistas como exigências, escolher bem as palavras é fundamental. Quanto mais específicas, melhor. 

“Você poderia…?”, “Você estaria disposto a..?”, “O que você acha de..?” são algumas formas de iniciar os pedidos, que devem indicar ações factíveis e no tempo presente para serem mais efetivos. 

O mais importante é transparecer a intenção de chegar a uma solução compartilhada.

“Para aplicar a CNV no trabalho, precisamos mergulhar na prática de clareza interior. Esse é o caminho para desenvolver as habilidades que nos permitem conduzir conversas de maneira a gerar compreensão mútua e colaboração”, resume Jade Arantes.

Leia também: Os 6 estágios de motivação para a mudança de comportamento

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