Para o bom desenvolvimento na primeira infância (0 a 6 anos), as crianças devem ser estimuladas desde o nascimento. Assim, vão progressivamente aprendendo a se movimentar e a se comunicar.
Por volta de um ano de idade, o bebê começa a dizer as primeiras palavras. Mas, antes disso, já é possível observar o desenvolvimento da vocalização e do balbucio.
“Os bebês estão prontos para a linguagem. Eles possuem um poderoso sistema de regras que é engajado por todos os estímulos linguísticos, fala ou signo”, afirmam pesquisadores em artigo científico publicado na revista Nature.
O início da comunicação oral dos pequenos está diretamente relacionado à interação com o ambiente externo.
“É necessário um ambiente favorável, em que a criança não só tenha outras pessoas falando com ela, mas de fato interagindo. A criança observa o meio e, gradativamente, passa a responder de diferentes formas: com sorriso, olhar, gestos, vocalizações, balbucio, até chegar na emissão de palavras”, destaca a fonoaudióloga Beatriz Verzolla, da comunidade de saúde da Alice.
Aqui estão algumas dicas para que você possa interagir com o seu bebê desde cedo, incentivando-o a se expressar oralmente.
10 dicas para ajudar o bebê a falar
1) Troque as telas pelos brinquedos para incentivar a fala
Com o grande número de smartphones, tablets, jogos eletrônicos e outras telas no nosso dia a dia, algumas crianças começam a usar esses dispositivos antes de começar a falar.
Há estudos, entretanto, que apontam que quanto mais tempo as crianças menores de dois anos passam em frente às telas, maior a probabilidade de começarem a falar mais tarde.
Por isso, a Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês não tenham acesso às telas até os dois anos e que não passem mais do que uma hora por dia em telas dos dois aos quatro anos.
Quanto mais a criança brincar, melhor. Ao ser envolvida em situações de faz de conta, a criança compreende a representação e expande a imaginação.
Entre os brinquedos que podem ser usados para incentivar a fala, estão aqueles que emitem sons e os que encantam pelas cores, botões e texturas.
Bonecos, carrinhos e outros objetos também podem ser incluídos nas brincadeiras de “mentirinha”.
Em jogos compartilhados, a criança é incentivada a assumir uma postura ativa na comunicação. Mas isso não quer dizer que é preciso adquirir brinquedos caros ou cheios de recursos.
“Vale investir em brinquedos que permitam diferentes brincadeiras e interação, como blocos de montar e peças de encaixe, ou mesmo utilizar objetos variados, como caixas, potes e tampas. Mais importante do que o brinquedo, é o ato de brincar e interagir”, lembra Beatriz.
2) Leia histórias infantis para a criança
Algumas mães começam a ler para o bebê quando ele ainda está na barriga.
Esse hábito propicia a criação de vínculos afetivos com a criança, conforme comprovam estudos científicos.
Os benefícios também se estendem às habilidades cognitivas, incluindo a capacidade de resolver problemas, e a ampliação do vocabulário.
Um estudo feito nos Estados Unidos estimou que crianças para quem os pais leem regularmente nos primeiros cinco anos são expostas a 1,4 milhão de palavras a mais do que crianças nessa faixa etária que não participam de leituras.
“As histórias podem ser exploradas de diferentes formas, não apenas lendo o texto, mas inventando novas histórias a partir das figuras, usando diferentes vozes e entonações dos personagens, fazendo perguntas para a criança, apontando ou recontando a história”, ensina a fonoaudióloga Beatriz Verzolla.
3) Associe sons a objetos, animais e personagens
Com um ano, a criança já consegue falar palavras como ‘mama’ e ‘papa’.
Termos simples como esses, com poucas sílabas, devem ser associados a objetos para facilitar o aprendizado e estimular a pronúncia.
Relacionar sons a animais e personagens, por exemplo, é uma estratégia para conquistar a atenção da criança.
Quando acompanhadas de imagens ou repetidas com frequência, as imitações dos sons podem ser assimiladas com mais facilidade, e ela pode querer reproduzir o que ouve.
Quando a criança já tenta pronunciar algumas palavras, é recomendado repeti-las para encorajar uma conversa bidirecional.
Por exemplo, se o bebê disser “au au”, a mãe, o pai ou outro cuidador podem dizer “au au” de volta.
E para aumentar o vocabulário do pequeno, pode ser acrescentada uma explicação: “Sim, o cachorro faz au au”.
4) Ensine canções e rimas simples
As músicas são bastante atrativas para a criança e devem ser muito exploradas pelos pais, pois desenvolvem tanto a audição quanto a comunicação oral.
Algumas pesquisas indicam que as habilidades auditivas e motoras relacionadas à música tendem a apoiar diferentes aspectos do desenvolvimento da linguagem e, inclusive, a correta aplicação de regras gramaticais.
“Brincadeiras e histórias com rimas, parlendas e cantigas são importantes para desenvolver habilidades mais complexas de linguagem e podem ajudar no processo de alfabetização, pois a criança vai adquirindo consciência dos sons da fala, para depois relacioná-los na escrita”, explica a fonoaudióloga Beatriz Verzolla.
5) Descreva nomes de objetos e ações
Para ampliar o vocabulário da criança, outra dica é nomear objetos e ações, principalmente em situações da rotina, como a hora do banho ou durante as refeições.
Nos passeios diários, por exemplo, a palavra “sapato” pode ser repetida em várias frases, perguntas ou comandos, para fixação do termo e do conceito.
“Para passear temos que ir de sapato. Onde está o seu sapato? Vamos calçar o sapato?” são algumas formas de inserir a palavra na rotina.
Apontar e nomear coisas ajuda a direcionar a atenção do bebê, favorecendo a assimilação das palavras.
Durante o passeio, os pais podem apontar para um gato que passa na rua e dizer: “Olhe, um gato!”.
Conforme a criança vai crescendo, outros detalhes podem ser mencionados: “Olhe, um gato branco!”.
Outra dica é falar com mais frequência palavras que serão úteis para a criança, como “quer”, “mais”, “dá”, “ajuda”.
Os pais também podem estimular os filhos oferecendo escolhas, como “Você quer uma maçã ou uma banana?”.
Pode ser que inicialmente a criança só aponte a fruta preferida, mas com o tempo tentará pronunciar o nome escolhido.
6) Busque sempre se abaixar para falar com a criança
Estabelecer contato visual com a criança é importante para que ela entenda as solicitações e também se sinta compreendida e acolhida.
Abaixar-se para ficar na altura dela é uma das melhores formas de criar essa conexão.
Ao permanecer no mesmo nível dos olhos da criança, o adulto demonstra estar dando total atenção a ela.
Outra forma de despertar o interesse do bebê para o que vai ser dito, é chamando-o pelo nome, ao iniciar a conversa.
Esse envolvimento tem efeitos positivos na autoestima da criança. Ela se sente amada, cuidada e protegida.
7) Articule bem a boca e faça expressões faciais
No convívio diário com as crianças que estão aprendendo a falar, os pais podem caprichar na articulação da boca e nas expressões faciais para ajudá-las na assimilação das palavras e futura pronúncia.
Um estudo com bebês de 12 meses de idade mostrou que eles têm atenção seletiva e alternam o olhar entre a boca e os olhos de quem está interagindo.
Há também evidências de que os movimentos labiais afetam a compreensão audiovisual das crianças.
A percepção dos sentimentos que as expressões faciais podem refletir é considerada vital para o desenvolvimento de habilidades sociais.
Durante os primeiros anos de vida, os bebês aprendem rapidamente que o comportamento de outras pessoas transmite informações significativas.
“É importante explorar as diferentes nuances da comunicação, mas de uma forma espontânea, em contextos naturais de comunicação”, observa Beatriz.
8) Relacione gestos a situações do dia a dia
Fazer gestos é uma das maneiras que a criança utiliza para se comunicar.
Como os bebês entendem a linguagem antes de falar, podem recorrer à gesticulação para sinalizar o que ainda não são capazes de expressar verbalmente.
Estudos sugerem que encorajar as crianças a gesticular desde cedo tem o potencial de aumentar o vocabulário e de facilitar o início de uma variedade de construções linguísticas.
Associar os gestos da criança a palavras pode ajudá-las na futura definição oral de coisas, sentimentos e necessidades.
Acenar ao dizer “tchau”, bater palmas ao cantar “parabéns” ou emitir som de beijinho com os lábios ao falar “beijo” são algumas maneiras de ajudar a criança a conectar as palavras com as ações.
9) Peça a seu filho para ajudá-lo e use palavras de cortesia
Instruções simples podem ser usadas no cotidiano para que a criança interaja e aprenda novas palavras.
Pedir que ela pegue um objeto ou que participe de alguma atividade doméstica, por exemplo, é uma forma de também estimular a independência.
“Além de favorecer o desenvolvimento global, a criança tem estímulos de linguagem muito ricos nesse contexto, além de se colocar na posição de um sujeito mais autônomo e participativo, inclusive nas relações de comunicação”, avalia a fonoaudióloga Beatriz Verzolla.
Para também desenvolver habilidades de convivência social, as instruções e pedidos podem vir acompanhadas de palavras de cortesia, como “por favor” e “obrigado”.
“Pegue seu casaco, por favor” ou “Feche a porta, por favor” são alguns exemplos de frases curtas que ao serem repetidas ajudam a criança a lembrar das palavras.
10) Ensine a pronúncia correta de palavras dentro de um contexto
Para que a criança não perca a espontaneidade e a vontade de falar, é recomendado não corrigi-la quando disser alguma palavra errada.
Para que ela aprenda a forma correta, a dica é usar o termo dentro de um contexto.
“Se a criança falar errado, não é indicado corrigir diretamente ou insistir para ela repetir até falar certo. Isso pode inibir as tentativas de comunicação. O adulto deve repetir o modelo e ampliar o contexto para que a criança tenha diferentes pistas para a produção correta”, ensina Beatriz.
Se a criança, por exemplo, falar errado a palavra “suco”, o adulto pode dizer: “Você quer suco, filho? Vou pegar o suco pra você. O suco está uma delícia!”.
E quando o bebê tentar dizer algo, o esforço deve ser reconhecido de maneira positiva.
Por exemplo, se ele perceber que o pai está saindo de casa e disser “Tchau, papai”, o adulto pode dizer “Sim, papai está indo para o trabalho”.
Criança com atraso na fala
Para acompanhar se a criança está desenvolvendo a habilidade de falar, os pais devem observar os marcos do desenvolvimento: balbuciar (com 10 meses); falar pelo menos uma palavra (a partir de 1 ano), falar 3 palavras (a partir de 1 ano e 3 meses); formar frases com duas palavras (a partir de 2 anos).
Caso notem que os bebês não se expressam como esperado, o médico pediatra deve ser informado.
“Não é indicado esperar até os dois anos para procurar ajuda caso a criança não fale. A famosa frase ‘cada criança tem seu tempo’ faz com que muitas crianças percam oportunidades de intervenção precoce muito importantes para o processo de desenvolvimento. Cada criança se desenvolve de uma forma particular, mas dentro do que é estabelecido nos marcos do desenvolvimento”, finaliza a fonoaudióloga Beatriz Verzolla.
Veja também: Bebês high-need: como identificá-los?
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