Se você usa lentes de contato, a lista de precauções a tomar é extensa. Não pode dormir com as lentes {ainda que seja um cochilo}, ignorar a data de validade ou limpar o estojo com produtos que não sejam próprios para isso.
E se você já entrou no mar, piscina ou simplesmente tomou um banho de chuveiro com as lentes de contato nos olhos, atenção: essas ações trazem riscos {reais oficiais}, que podem, em casos mais extremos, levar à necessidade de um transplante de córnea ou à perda da visão {pois é}.
Como as lentes de contato afetam a saúde dos olhos?
Há ótimos motivos para tantos cuidados com as lentes de contato, segundo Thais Benassi, médica oftalmologista da Comunidade de Saúde da Alice. “Apesar de ser um produto bem adaptado ao olho, as lentes de contato são um corpo estranho que gera implicações fisiopatológicas. Elas interferem nas lágrimas, na lubrificação do olho, na oxigenação da córnea e tudo isso aumenta a probabilidade de problemas”, explica.
O principal é o risco de infecções que, segundo Benassi, podem levar à inflamação da córnea, condição também chamada de ceratite. Vale lembrar que a córnea é a estrutura transparente localizada exatamente no local onde as lentes de contato ficam posicionadas.
“A ceratite pode ser causada por bactérias, fungos ou protozoários e é bem grave porque, dependendo do grau de acometimento e do microrganismo responsável, a pessoa pode ter uma sequela visual permanente, cegueira ou pode precisar, inclusive, transplantar a córnea. Esse é o nosso maior medo, e todos os cuidados são para evitar principalmente essa complicação”, explica a médica oftalmologista.
Outras sequelas do uso prolongado ou inadequado das lentes são:
- Redução da sensibilidade (tecnicamente chamada de hipoestesia) da córnea e da conjuntiva (membrana que reveste a pálpebra);
- Aumento da vascularização na borda da córnea, que significa uma redução na oxigenação da área;
- Piora da sensação de olho seco, alergia e desconforto no uso da lente;
- Surgimento dos chamados infiltrados estéreis, manchas que aparecem na córnea.
“Por isso, o uso das lentes de contato não é algo absolutamente inócuo, e a gente precisa considerar isso tudo quando vai prescrevê-las para alguém”, reforça Benassi.
Como cuidar das lentes de contato?
As regras são simples e valem para qualquer tipo de lente de contato:
- Sempre lave bem as mãos antes de encostar nos olhos e nas lentes;
- Use apenas a solução multipropósito para a limpeza e não use soro ou água, de jeito nenhum. “A água carrega um microrganismo, chamado de acanthamoeba, que gera uma ceratite muito grave”, segundo Benassi. Além do tratamento durar meses, não é raro a pessoa ter uma perda visual permanente;
- Faça a limpeza do estojo com o mesmo produto das lentes, a solução multipropósito. “Esse é um produto que não vai danificar a lente e o risco de carregar algum microrganismo é baixo”, explica a médica;
- Nunca entre na água usando as lentes;
- Nunca durma com as lentes nos olhos;
- Respeite o período de troca do produto. “Cada marca tem sua duração. Há lentes quinzenais, mensais e até com descarte diário”, afirma Benassi.
Outro cuidado é sempre ficar atento ao que o olho está “dizendo”. “Se a pessoa colocar as lentes e perceber que tem algo errado, como o olho ter ficado vermelho ou sentir um desconforto, é melhor retirar, usar um lubrificante e, se não melhorar, procurar um profissional”, alerta.
Qualquer sensação que faça a pessoa lembrar que está usando as lentes precisa ser avaliada, segundo Benassi. “Às vezes a pessoa pensa que o incômodo vai passar, que o olho está se acostumando, e não é assim. A não ser que ela esteja em um período de adaptação, não tem motivo saudável para ter um desconforto e insistir em ficar com as lentes pode significar uma perda visual permanente no futuro”, reforça.
>> O que você deve saber antes de consultar um oftalmologista?
Quais os tipos de lente de contato?
Há basicamente dois tipos de lentes de contato:
- Lentes gelatinosas: líderes de uso, têm uso e adaptação mais fáceis. Podem ser indicadas a um número maior de pessoas e, por isso, carregam mais risco de serem usadas erroneamente e gerar problemas.
- Lentes rígidas: a adaptação das lentes rígidas dura semanas, já que são um corpo estranho mais desconfortável do que as gelatinosas. O uso é restrito a condições específicas, como ceratocone, graus muito diferentes entre os olhos e quando o relevo da córnea não se adapta bem às lentes gelatinosas.
Quem pode usar lentes de contato?
A principal contraindicação no uso das lentes de contato é a falta de condições de manter todos os cuidados básicos de higiene das mãos e de manipulação dos itens. Afinal, o risco visual, neste caso, é grande demais e a pessoa pode se beneficiar mais com os óculos.
Segundo Benassi, não existe uma idade mínima para a prescrição do produto, mas os profissionais acabam priorizando adolescentes acima dos 15 anos e, em alguns casos, até mais velhos do que isso. “O médico precisa ter certeza de que a pessoa vai procurar ajuda caso perceba alguma complicação e manter as condições de higiene e de autocuidado”, afirma.
É avaliada também a saúde do olho, se há alterações no relevo da córnea, se é um olho muito seco ou com blefarites (inflamação da borda das pálpebras) e se a pessoa tem muitas alergias. Essas são condições que contraindicam ou, pelo menos, dificultam o uso das lentes e cada caso precisa ser avaliado individualmente.
E as indicações? A mais comum é para corrigir os erros refracionais da visão {mais conhecidos por miopia, hipermetropia e astigmatismo}. Atualmente existe ainda uma lente de contato multifocal que corrige também a presbiopia, ou a vista cansada.
Nesses casos, as lentes servem como substitutos dos óculos, mas há situações em que elas são a primeira escolha, como no tratamento do ceratocone – condição em que a córnea se projeta para frente, no formato de um cone. “Aí passamos para um tipo de lente diferente, que é mais rígida do que em comparação às mais usadas, as gelatinosas”, explica a oftalmologista.
As lentes também podem ser indicadas para melhorar o conforto e promover uma revitalização de lesões na córnea, além, claro, do uso estético. “Hoje são comuns as lentes sem grau e coloridas, para modificar a cor dos olhos e serem usadas como parte das fantasias.”
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