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Edith Fraenkel: a enfermeira que lutou pela profissão no Brasil

Edith Fraenkel: a enfermeira que lutou pela profissão no Brasil

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Em 1918, enquanto o mundo ainda não sabia quando a Primeira Guerra Mundial chegaria ao fim, a brasileira Edith Magalhães Fraenkel concluiu o curso de visitadora sanitária pela Cruz Vermelha, aos 29 anos de idade. 

O seu objetivo era se preparar como socorrista voluntária para cuidar dos soldados feridos da guerra, mas os ensinamentos serviram para outra crise. No mesmo ano, o Brasil enfrentava a pandemia de gripe espanhola, que atingiu especialmente o Rio de Janeiro e vitimou 15 mil pessoas. 

Esse foi o primeiro contato de Edith {conhecida também como Dona Edith} com a área da saúde. Mal ela sabia então, mas depois se tornaria responsável por um grande legado para a enfermagem no país, segundo os pesquisadores da profissão. 

“(…) Na historiografia profissional da Enfermagem não se encontra quem tenha desempenhado tantas funções e acumulado tantas realizações de grande porte. Deixou um imenso legado para todas as gerações de enfermeiros que a sucederam”, destacam os autores em um artigo publicado na Revista Escola de Enfermagem da USP (Universidade de São Paulo).

Ainda segundo eles, Edith soube “desbravar e abrir os caminhos para todos os profissionais de hoje que podem desfrutar de prestígio e reconhecimento da sociedade, traduzido inclusive em melhoria das condições econômicas e salariais”. 

Quem foi Edith Magalhães Fraenkel?

Assim como outras figuras históricas da enfermagem no Brasil {Rachel Haddock Lobo, por exemplo}, Edith nasceu em uma família de destaque na sociedade da época. Seu avô por parte de mãe era Benjamin Constant Botelho de Magalhães, militar, político, professor e um dos fundadores da república brasileira. 

Edith, inclusive, nasceu no mesmo ano da Proclamação da República, no dia 9 de maio de 1889, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Na infância, viveu pouco no Brasil, já que o pai era diplomata, e passou os primeiros anos entre Alemanha, Suécia e Uruguai, onde aprendeu os idiomas locais, além de inglês, francês, italiano e, claro, português. 

Com a morte do pai em 1906, a família retornou ao Rio de Janeiro, onde atuou como professora em uma escola particular. Além de ter feito curso de socorrista voluntária e  atendimento aos doentes durante a gripe espanhola, Edith conheceu a enfermeira norte-americana Ethel Parsons, que a incentivou a estudar enfermagem e a construir uma identidade moderna para a profissão no país. 

“Ela é tida como uma pioneira na profissão porque, até onde sabemos, Edith foi a primeira enfermeira brasileira a estudar a enfermagem em um curso universitário de três anos. A Anna Nery, por exemplo, foi voluntária da guerra do Paraguai, e a importância dela é em um período pré-profissional da enfermagem”, explica Maria Angélica de Almeida Peres, coordenadora do departamento científico de história da enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem. 

Edith Fraenkel e a Missão Parsons

Em 1921, o Brasil recebeu uma comitiva de enfermeiras dos Estados Unidos para uma missão técnica de cooperação, com o objetivo de desenvolver a profissão no país. Entre elas estava Ethel Parsons, enfermeira cujo sobrenome virou, mais tarde, um sinônimo desta missão.  

Ao conhecer Edith, Ethel Parsons percebeu que ela poderia reproduzir o modelo de enfermagem preconizado pelos Estados Unidos e tido como o mais moderno. Como Edith sabia falar inglês, foi estudar a profissão no Hospital Geral da Filadélfia, aos 33 anos, com uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller. 

“Edith (…) retorna ao Brasil, em 1925, com o diploma de enfermeira, registrada no Departamento de Saúde Pública dos Estados Unidos, sendo, também, a primeira enfermeira brasileira. Aqui chegando, imediatamente é nomeada instrutora da Escola de Enfermeiras Anna Nery (EAN), em substituição a uma professora americana”, destacam os autores de um artigo sobre a trajetória da enfermeira, publicado na Revista Brasileira de Enfermagem.

Ela continuou como professora da escola até 1927 e, no ano seguinte, assumiu o cargo de superintendente do Serviço de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública. De acordo com os autores de artigo publicado na Revista Escola de Enfermagem da USP, dentre os problemas mais complicados que Edith teve de solucionar neste período estava a prevenção da tuberculose – doença transmissível, causada por uma bactéria, e de difícil tratamento, já que exige cerca de seis meses. 

“[Os problemas se davam] inicialmente pela carência de pessoal habilitado para a assistência pública. [Edith] Foi obrigada a continuar com o preparo e utilização de visitadoras que realizavam o trabalho junto à população carente do Rio de Janeiro. Essa população estava agrupada em morros geralmente de difícil acesso e sempre avessa a qualquer intromissão em seus lares. Igualmente havia falta no quantitativo de enfermeiras para fazer frente aos problemas de saúde no DNSP para estabelecer conexão direta entre o Serviço e os domicílios dos doentes. Entretanto, o resultado do esforço parece ter sido muito positivo, levando-se em conta as dificuldades que tiveram de ser vencidas ou contornadas”, destacam os autores. 

Mesmo nesses anos, Edith não parou de pensar em como melhorar a categoria profissional no país, e dois projetos se destacam: a criação de uma associação e o lançamento de uma revista científica. 

Revista e associação para as enfermeiras brasileiras

Durante a formação nos Estados Unidos, Edith conheceu a professora Lílian Clayton, que dava aulas de ética. Foi com ela que a então estudante aprendeu que, para uma profissão progredir, eram necessárias uma associação da categoria e uma revista científica. 

Edith foi a primeira presidente da Associação Brasileira de Enfermagem, criada em 1926, e embora tenha incentivado a criação da publicação, foi Rachel Haddock Lobo quem assumiu o cargo de primeira redatora-chefe da Revista Annaes de Enfermagem. 

A associação cresceu e se destacou a ponto de, em 1927, receber o convite do Conselho Internacional de Enfermeiras para que o país fosse representado em um congresso internacional, que seria realizado no Canadá, em 1929. 

“Da. Edith e Ethel trabalharam intensamente para reorganizar a Associação de forma a satisfazer os requisitos exigidos para filiação, entre os quais o acréscimo da palavra Brasileira no título, como forma de identificar o país de origem da entidade filiada. Assim, essa Associação, que atualmente denomina-se Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn, representada por Da. Edith, foi aceita como membro do CIE em 1929, tornando-se a primeira organização da América Latina a ser filiada”, destacam os autores em um artigo publicado na Revista Escola de Enfermagem da USP.

Já a revista científica ficou entre 1941 e 1944 fora de circulação, por conta da falta de papel durante a segunda guerra mundial. Quando Edith assumiu a função de redatora-chefe, reorganizou o periódico, com nova capa e aspecto mais moderno, e voltou a editá-lo sob o novo nome: Revista Brasileira de Enfermagem.

Escola de Enfermagem da USP

Apesar de passar boa parte da vida no Rio de Janeiro, Edith é convidada a dirigir uma escola de enfermagem que ainda seria criada em São Paulo, junto à Faculdade de Medicina da USP. 

Para se preparar para o cargo, ela viajou aos Estados Unidos e Canadá por um ano e meio e, em 1943, surgiu a escola – sob o apoio da Fundação Rockefeller. 

“Em 13 de outubro de 1943 Edith proferiu a aula inaugural da Escola de Enfermagem na presença de autoridades, funcionários e 38 professores normalistas, primeira turma de alunas. Nascia, assim, uma das escolas mais importantes na formação do pensamento da Enfermagem brasileira, se constituindo em um novo centro difusor da profissão no Brasil, que vai exercer profunda influência na organização de novas escolas no país”, destacam os autores de um artigo publicado na Revista Brasileira de Enfermagem.

Edith morreu no dia 5 de abril de 1969, aos 79 anos de idade, no Rio de Janeiro. 

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