Um dia a dia estressante, uma alimentação desbalanceada, uma rotina sem exercícios físicos e com sono de má qualidade, episódios de ressaca alcoólica e pouca hidratação. Sabemos que a manutenção de alguns ou vários desses maus hábitos listados tem impacto enorme na saúde.
Mas e para a dor de cabeça? Qual o papel de uma rotina saudável na prevenção ou mesmo no tratamento desse desconforto?
Em primeiro lugar, cabe explicar as diferenças entre as dores de cabeça, que são classificadas em:
- primárias, quando elas se encerram em si mesmas;
- secundárias, quando são sintomas de alguma doença subjacente (como dengue, covid-19 etc.)
As dores primárias configuram a maioria dos casos, e podem ser divididas em quatro tipos: enxaqueca, cefaleia tensional (esses dois primeiros são os mais comuns), cefaleia cervicogênica e cefaleia em salvas. Leia mais sobre os tipos de dor de cabeça aqui.
A Ciência ainda não descobriu a causa exata para a enxaqueca, mas o que ela sabe é que há fatores que desencadeiam as crises e, consequentemente, a dor de cabeça que vem com elas.
Muitos deles estão intimamente ligados à rotina, como o consumo de certos alimentos (vinho, chocolate e alguns tipos de queijos maturados), além do sono inadequado, estresse, depressão, ansiedade e abuso de medicamentos, segundo estudos compilados pelo British Medical Journal (BMJ).
“Costumo dizer que a enxaqueca é a doença de quem é apegado à rotina. Ela demanda rotina, porque sair dela normalmente é um desencadeante para as crises”, explica Lívia Ces Guedes Pereira, médica da Alice, especializada em medicina de família e comunidade e formada na Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.
Como cada hábito pode influenciar a dor
Estresse
As cefaleias primárias, como a tensional e a enxaqueca, têm no estresse um efeito importante. No caso da tensional, como o próprio nome diz, a tensão muscular pode ser causada por uma situação ou rotina estressante.
Não se sabe exatamente o mecanismo da enxaqueca, mas tem a ver com um efeito indireto: quando a pessoa está ansiosa e estressada, ela tende a se alimentar pior, dormir menos ou pior, e tudo isso pode desencadear a crise, explica Guedes Pereira.
“Os próprios pacientes de enxaqueca, que é um problema crônico, já sabem e relatam: tive essa crise porque anteontem briguei com meu marido e aí acordei com dor de cabeça no dia seguinte. É mais comum”, diz a médica.
Exercícios físicos
Segundo a literatura médica compilada pelo BMJ, a prática regular de exercícios pode reduzir a incidência das cefaleias tensionais, apesar de poucas evidências sustentarem isso.
“Mas o exercício costuma ser um hábito que puxa outras melhorias no estilo de vida. Se faço atividades, naturalmente vou me alimentar melhor para poder render mais e fazer exercícios sem maiores problemas… E vou dormir melhor, porque ele melhora o sono ou porque vou precisar ir pra cama antes pra acordar mais cedo pra ir treinar. O exercício acaba sendo o capitão que puxa outros hábitos que são mais difíceis de estabelecer. Acho que só isso já ajuda muito”, diz a médica da Alice.
Portanto, sob essa ótica, a recomendação da prática de exercícios regulares, bem como a higiene do sono e o relaxamento planejado, devem ser considerados como parte do programa terapêutico contra as cefaleias tensionais.
Há algumas evidências de que o exercício pode reduzir a frequência da enxaqueca e o número de dias de enxaqueca, mostram os estudos compilados pelo BMJ.
Durante a crise da enxaqueca, no entanto, praticar exercícios pode piorar a dor de cabeça, fazendo ela ficar mais intensa, diz Guedes Pereira.
“Uma pessoa com enxaqueca quer se deitar na cama e ficar quieta, nunca vai querer se exercitar na crise. Mas com a dor de cabeça tensional não é tanto assim, a dor não piora tanto com exercício, então não tem contraindicação fazer uma caminhada leve, por exemplo.”
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Consumo de álcool e ressaca
Bebidas alcoólicas, como vinho, são gatilhos clássicos para crises de enxaqueca, então devem ser evitados ao máximo.
No caso da ressaca, as dores de cabeça ocorrem pois a bebida alcoólica em excesso (e essa medida de “excesso” é bastante pessoal) intoxica o metabolismo, causa hipoglicemia (falta de açúcar no sangue) e desidratação. Em muitos casos, a privação de sono que acompanha a bebedeira pode agravar os sintomas e também o desconforto causado pela dor.
Para evitar a ressaca, portanto, a recomendação é básica: não beber de estômago vazio, intercalar a bebida com bastante água e ter uma longa noite de descanso.
Sono
O sono inadequado é um dos grandes vilões para a enxaqueca e para celafeia em salvas, embora o mecanismo seja desconhecido, explica a especialista.
“No caso da cefaleia tensional também, porque, quando a gente não dorme direito, a gente fica mais tenso e sofre estresse”, diz.
Alguns estudos relataram uma associação entre a cefaleia em salvas e a apneia do sono, e alguns pacientes melhoraram o controle da dor de cabeça com o tratamento da apneia do sono.
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Enxaqueca e alimentação
Ter uma alimentação balanceada, rica em fibras, legumes e verduras, faz toda a diferença na vida de qualquer pessoa. Para os pacientes que sofrem com enxaqueca, mais ainda.
Isso porque muitos fatores que desencadeiam a maioria das crises encontram-se na alimentação.
Alguns gatilhos são o alto consumo de cafeína, pois a substância aumenta o risco para as crises e a enxaqueca crônica, especialmente em mulheres mais jovens e em indivíduos com cefaleias crônicas de início recente (por outro lado, a supressão súbita de cafeína também pode desencadear sintomas), e alimentos específicos, como chocolate, os mais maturados (envelhecidos), a exemplos de alguns queijos, além de bebidas alcoólicas, como o vinho.
Muitas pessoas possuem gatilhos alimentares específicos para a enxaqueca, como banana nanica e carne de porco, o que só é detectado ao longo do tratamento.
“Evitar os gatilhos reduz a frequência das crises e também costuma melhorar a intensidade das dores de cabeça”, explica Guedes Pereira.
Hidratação em dia
Beber água com regularidade é superimportante para tudo na vida. Na enxaqueca, ela inclusive faz parte do tratamento da crise.
“Quando uma pessoa dá entrada no pronto-socorro com uma crise, ela é colocada no soro, não só para a medicação ser intravenosa, mas sobretudo para hidratá-la”, explica a médica da Alice.
“Muito provavelmente a hidratação é importante também por causa da questão vascular, do volume de sangue circulando nos vasos da cabeça. Mas fora das crises também é indicada, justamente para evitar desencadear os episódios.”
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Tabagismo
Cigarro é ruim para tudo na vida, e para os quadros de dores de cabeça não seria diferente.
No caso das cefaleias primárias, existe uma associação do tabaco com um aumento da incidência das cefaleias em salvas, que é mais comum em quem fuma, embora nenhuma relação causal tenha sido encontrada para explicar isso.
No caso da enxaqueca existe uma hipótese ligada ao mecanismo de vasodilatação e vasoconstrição que ocorre quando a pessoa fuma.
“Como a enxaqueca tem um perfil de dor relacionado à vasculatura, o tabagismo pode piorar a longo prazo”, explica a médica da Alice.
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