Uma laranja bem suculenta pode trazer uma experiência deliciosa ou dolorosa. Se você tiver uma afta na boca, é bom se preparar para aquela ardência.
Apesar da sensação, não dá para cravar em pedra que alimentos causam aftas. Pelo menos não sozinhos. Então, o que provoca essas danadinhas?
“As aftas têm causa multifatorial, ou seja, diversas questões podem estar envolvidas”, afirma a nutricionista Fernanda Lancellotti, da Comunidade de Saúde da Alice.
Olha só quantas causas podem estar em jogo no surgimento das aftas:
- Imunidade baixa;
- Alterações hormonais (como TPM);
- Tabagismo;
- Álcool;
- Higiene bucal inadequada;
- Traumas na região (como mordida e escovação agressiva);
- Estresse e outros fatores psicológicos e;
- Deficiências de nutrientes.
Ah, e se alguém da sua família costuma ter aftas, é capaz que você {e outros parentes} também tenham.
“As evidências científicas também vêm apontando para componentes genéticos que predispõem a aftas. A boa notícia é que isso não está, necessariamente, associado a nenhum outro problema de saúde”, completa Luís Antônio Soares Pires Filho, médico de família e comunidade e membro do time de Health Excellence da Alice.
Afinal, qual é a relação entre alimentos e afta?
A nutricionista comenta que, de fato, esse tipo de úlcera surge mais facilmente quando consumimos alimentos ácidos, condimentados ou picantes. É o caso das frutas ácidas, como abacaxi, limão e laranja, do molho de pimenta e do molho inglês.
Isso porque eles diminuem a proteção da mucosa oral (a membrana que cobre a região) e, se outra condição andar junto — como estresse ou imunidade baixa —, o risco de a afta surgir aumenta.
“Se a lesão já estiver instalada, alimentos com essas características podem piorar o quadro”, alerta a nutricionista.
Essa é uma das formas que a alimentação contribui com o quadro, mas não é a única.
“A deficiência de alguns nutrientes, principalmente ferro, ácido fólico e vitaminas B12, C, A e E, também pode contribuir para a ocorrência de aftas”, diz Lancellotti.
A nutricionista explica que a deficiência de vitamina B12 está relacionada à ardência e à menor proteção do tecido na região da boca, enquanto as vitaminas A, C e E estão relacionadas à integridade desse tecido {ou seja, quando estão em falta, ele acaba mais danificado}.
Já a deficiência de ácido fólico contribui para a degeneração das células da mucosa (o tecido que reveste a boca e outras partes do corpo) aos poucos, o que acaba favorecendo o surgimento das aftas.
Por fim, a deficiência de ferro está ligada ao enfraquecimento do sistema imunológico {o que pode ter tudo a ver com essas pilantrinhas, como você verá adiante}.
Nessa linha de raciocínio, turbinar o consumo desses nutrientes é uma das linhas de defesa contra as aftas. A nutricionista dá a lista de onde encontrá-los:
- Vitamina B12: carnes em geral, peixes, ovos, leite e derivados;
- Ferro: carne vermelha, feijões e folhas verde escuras;
- Ácido fólico: feijão branco, verduras de folhas verde escuras, gema de ovo, fígado, peixes;
- Vitamina A: peixe, ovo, vegetais amarelo-alaranjados;
- Vitamina E: vegetais verde escuros, castanhas, ovos;
- Vitamina C: limão, laranja, caju, acerola, morango.
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Afta pode ser imunidade baixa?
A ciência vem explorando algumas hipóteses sobre a relação entre imunidade e aftas. Em uma delas, conta Lancellotti, o sistema imune “quebraria” as chamadas células epiteliais, que são parte dos tijolinhos que formam a mucosa oral.
Traduzindo: “Quando a imunidade está comprometida, uma das reações do nosso corpo pode ser a destruição de tecidos, incluindo os da região da boca. Situações de estresse que podem levar a uma redução na imunidade e ressecamento de mucosas também podem entrar na equação”, explica a nutricionista.
Essa não é a única hipótese. “As evidências mais recentes apontam que as aftas podem surgir quando temos uma resposta inflamatória exagerada a alguma lesão da boca — ou seja, uma resposta imune mais forte do que o necessário”, comenta o médico de família da Alice.
É como se você machucasse a boca e, na tentativa de curar a ferida, o sistema imunológico exagerasse na dose. Aí a confusão {aliás, a afta} está formada.
E aí, o que é bom para afta? Remédios, pomadas e hábitos
Se uma dessas danadinhas surgirem por aí, a primeira atitude é acertar no cardápio e fugir dos alimentos que vão piorar a situação {ácidos, apimentados e condimentados, lembra?}.
“A recomendação é preferir preparações em temperaturas amenas e em consistência que não incomode ou intensifique a dor. Comida pastosa pode ser uma boa pedida”, aconselha Lancellotti.
Na hora de higienizar a boca, vá com calma para não provocar nenhuma lesão. Prefira escovas dentais mais macias e enxaguantes bucais sem álcool.
“Também é interessante evitar o hábito de morder os lábios, a língua e as bochechas”, acrescenta Filho.
No campo dos remédios para afta, o médico aponta que é comum usar pomadas com efeito anestésico, como a lidocaína, ou corticoides tópicos (para usar no lugar do machucado), como a dexametasona. As duas aliviam a dor, mas só a última também diminui a inflamação local.
O médico lembra, porém, que, na maioria dos casos, a afta some depois de uma semana, sem precisar de nenhuma intervenção.
“O tratamento ajuda a lidar com a dor e o desconforto e facilita que a pessoa consiga realizar boa higiene oral, alimentar-se sem dificuldade e seguir com o seu dia a dia sem problemas.”
Em alguns {raros} casos, o profissional de saúde pode entrar com um antifúngico ou um antibiótico local. Geralmente, isso acontece com pacientes que têm aftas muito extensas ou que têm outras doenças que podem dificultar o tratamento, como diabetes fora de controle.
Na dúvida, paciência e purezinho em temperatura ambiente nunca fizeram mal para ninguém.