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Quais os riscos do energético para saúde e quando é demais?

Além da cafeína, outros ingredientes contribuem para os efeitos indesejados das bebidas energéticas.

Quais os riscos do energético para saúde e quando é demais?
Baseado em evidências científicas

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Se no começo dos anos 2000 havia apenas uma ou duas marcas de bebidas energéticas {e com opções limitadas de sabor}, basta um passeio pelas prateleiras dos mercados para observar que a variedade aumentou significativamente nos últimos 20 anos.

Melancia, pêssego, coco, açaí… Os sabores disponíveis hoje são muitos e as marcas que produzem esse tipo de produto também se multiplicaram.

Mas há tanta gente que gosta e consome esse tipo de produto? A resposta é um sonoro “sim”, de acordo com os dados da Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e Bebidas não Alcoólicas.

Em 2010, o brasileiro consumia cerca de 300 mL por ano de bebidas energéticas – pouco menos de uma lata, que contém 473 mL, em média (há versões menores, de 250 mL). Já em 2021, o consumo aumentou para 710 mL por ano, ou uma lata e meia para cada pessoa.

Energético no trabalho te dá asas?

Esqueça as baladas. As bebidas energéticas estão cada vez mais nos escritórios, nas indústrias e no dia a dia empresarial, e as pessoas que as utilizam acreditam que isso garantirá mais foco e produtividade.

“Aquela ideia do mundo corporativo de que você deve produzir enquanto os outros estão dormindo gerou uma necessidade cada vez maior de estimulantes. Não só de cafeína, mas de bebidas alcoólicas e medicamentos de tarja preta também. Mas o uso excessivo desse tipo de bebida deve gerar preocupação”, afirma Amanda Mineiro, nutricionista da Alice que estuda nutrição comportamental.

Quem exagera nas latinhas de energético pode se preparar para náuseas, enjoos, taquicardias, aumento do movimento peristáltico do intestino {termo técnico para se referir à famosa diarreia} e até mesmo crises de ansiedade e dores de cabeça. O uso crônico do produto também pode fazer com que o corpo crie uma resistência à cafeína, o que exige que a pessoa beba cada vez mais para obter o mesmo efeito.

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Cafeína e taurina no energético: como funcionam?

O ingrediente mais conhecido dos energéticos é a cafeína, mas, para que a bebida seja realmente energética, com mais foco e atenção, outras substâncias estimulantes são adicionadas, como a taurina.

O nosso cérebro tem receptores específicos que se conectam com um aminoácido produzido pelo organismo chamado de adenosina (ou adenosina trifosfato, ATP), e essa é a nossa principal forma de energia.

Quando tomamos uma bebida como os energéticos, a cafeína entra no lugar da adenosina no receptor cerebral e isso gera um estímulo, deixando a pessoa mais desperta e com disposição – além de aumentar os batimentos cardíacos e o fluxo sanguíneo, levando mais oxigênio para as células.

Parece perfeito, né? Mas a cafeína tem uma duração no corpo, que é de cinco horas, em média, segundo Mineiro. “Se eu tomo cafeína, esse processo de inibir o receptor de adenosina acontece durante cinco horas e, então, cai, gerando um efeito rebote”, explica.

É por isso que dá aquela canseira e sono horas depois do cafezinho {isso se a pessoa tomar só um!}. Mas isso não acontece quando a bebida escolhida é o energético, pois a taurina não deixa.

“Com o energético, quando passa o efeito da cafeína, você fica sonolento e cansado, mas o cérebro não desliga. Isso porque a concentração da taurina não deixa você apagar completamente. É comum as pessoas relatarem que estão muito cansadas, mas não conseguem desligar e dormir”, explica a nutricionista.

Esse é justamente o papel da taurina. Enquanto a cafeína estimula, a taurina garante que o foco e a concentração sejam mantidos.

“Por isso que a bebida é usada no mundo corporativo, mas também nos esportes. Se uma pessoa treinar jiu jitsu, por exemplo, ela precisa de concentração e de movimentos precisos para que a pegada no kimono do adversário seja firme. Se ela ingerir só cafeína, a mão pode tremer e suar. Com a cafeína e a taurina, há o estímulo, mas também foco e concentração”, explica Mineiro.

Energético faz mal?

Energéticos podem, sim, fazer mal à saúde, gerando sintomas de náusea, enjoo, taquicardia (que pode desencadear problemas cardíacos em pessoas com predisposição), aumento dos batimentos cardíacos e até mesmo crises de ansiedade e dores de cabeça.

Embora essas questões possam ocorrer com qualquer pessoa, o risco aumenta para alguns grupos, como gestantes, pessoas tentando engravidar e quem tem problemas cardíacos.

Gestante pode tomar energético?

Melhor não. Como é uma bebida estimulante, há um aumento nos batimentos cardíacos e o consumo pode gerar contração uterina. Por isso não é indicada para gestantes ou pessoas amamentando.

Além disso, quem estiver tentando engravidar também pode se beneficiar de uma pausa da cafeína. Isso porque a substância aumenta o tempo em que o óvulo permanece na tuba uterina, além de interferir na oferta de nutrientes para o óvulo. Isso pode afetar a fertilidade.

Energético e ansiedade: qual é a relação?

As bebidas energéticas, por conta da cafeína, aumentam os batimentos cardíacos e o fluxo respiratório. Isso pode ser um gatilho para crises de ansiedade. O risco é maior entre quem já tem ansiedade, mas pode contribuir como mais um fator, segundo explica Mineiro.

“Mas se a pessoa toma café ou bebidas energéticas em excesso, isso pode ser reflexo de que ela está trabalhando demais ou que está sob muito estresse. Aí já contabilizam outros fatores e a cafeína pode, sim, ser um gatilho, a longo prazo, para essas condições”, argumenta.

Energético: qual é a quantidade segura?

Sem contar as pessoas nos grupos de risco, o ideal é comparar a bebida energética com outros alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, ou até mesmo com as bebidas alcoólicas: quanto menos, melhor.

Afinal, além da cafeína e da taurina, esses produtos contêm também sódio, açúcares e adoçantes, corantes e conservantes que prejudicam a qualidade nutricional. “Como é uma bebida ultraprocessada, entra na mesma linha dos refrigerantes. Ou seja, não dá para tomar todos os dias”, alerta Mineiro.

Pensando em quantidade segura, a nutricionista a calcula a partir da cafeína. A recomendação da agência reguladora norte-americana FDA (Food and Drug Administration) é de até 400 mg de cafeína por dia. Uma lata de energético tem entre 50 mg a 80 mg da substância.

Parece pouca cafeína por lata, já que seria “seguro” tomar entre 5 e 8 latinhas de energético por dia, se levar em consideração apenas isso. Mas, vale lembrar, há a vida útil da cafeína a se considerar – de cinco horas – e outros alimentos com a substância que são consumidos ao longo do dia.

“Se a pessoa tomar uma lata, esperar as cinco horas do efeito da cafeína e, só então, tomar outra, isso daria umas três latas por dia. Só que não é só isso que uma pessoa consome de cafeína por dia, porque há café e refrigerantes de cola no dia a dia. E, quando for calcular, ao invés de 50 mg, a pessoa consumiu mais de 100 mg da substância em poucas horas”, explica Mineiro.

A recomendação dos profissionais de saúde é, em primeiro lugar, evitar os energéticos e, em segundo, não tomar mais do que uma lata por dia.

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