Bullying é um termo usado no meio escolar para definir atitudes agressivas de alguns estudantes em relação a outros.
Mas você sabia que esse tipo de conduta está ganhando novos contornos e alcançando outros ambientes sociais e virtuais?
Bullying: conceito em evolução
O conceito clássico de bullying foi criado na década de 1970 pelo psicólogo sueco-norueguês Dan Olweus.
Ele descreveu o bullying como comportamento agressivo, intencional, repetitivo e que ocorre em circunstâncias de desequilíbrio de poder.
“Basicamente, isso quer dizer que um aluno está sofrendo bullying quando ele é exposto de forma repetitiva a ações negativas de outros colegas e apresenta dificuldades em se defender”, resume o pedagogo Benjamin Horta, especialista no assunto e gestor do Programa Escola Sem Bullying (@escolassembullying no Instagram).
Nos últimos anos, porém, estudiosos reunidos em conferências promovidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) definiram novas perspectivas para o tema.
“Uma das conclusões foi que o bullying envolve não só um grupo de estudantes com a intenção de agredir o colega mas também afeta toda uma rede de relacionamentos que também está fora da escola. Isso amplia o aspecto social do bullying”, destaca Horta.
Outro ponto que ganhou maior alcance foi a intencionalidade.
“O aluno que pratica, na maioria das vezes, tem a intenção de ferir, de subjugar, de humilhar o outro. Porém, dentro do grupo, existem estudantes que não necessariamente têm essa intencionalidade, mas replicam o comportamento dos demais somente para agradá-los”, explica o educador.
Nesses casos, o jovem que pratica bullying apenas para acompanhar o grupo poderia não ter dimensão do quanto aquele comportamento afeta quem está sendo vítima.
A repetição de episódios para configurar o bullying também tem sido objeto de reflexões.
“Geralmente, para que o bullying se configure, consideram-se de dois a três episódios de intimidação, num período de um mês, contra a mesma pessoa. Mas já se admite a repercussão de um ato apenas porque a dor causada pode ter efeitos em curto, médio e longo prazo.”
Tipos de bullying: das escolas ao cyberbullying
O bullying pode ocorrer por meio de insultos pessoais, piadas, comentários depreciativos, apelidos pejorativos, expressões preconceituosas, ameaças, exclusão, isolamento forçado e agressões físicas.
De acordo com a lei federal 13.185/2015, que instituiu o Programa Nacional de Combate à Intimidação Sistemática, os tipos de bullying são:
- Verbal: insultar, xingar ou criar apelidos pejorativos;
- Moral: falar mal, humilhar, espalhar mentiras e rumores;
- Sexual: assediar, induzir ou abusar;
- Social: ignorar, isolar ou excluir;
- Psicológico: perseguir, amedrontar, intimidar, dominar, manipular ou chantagear;
- Físico: bater;
- Material: furtar, roubar ou destruir pertences;
- Virtual (cyberbullying): depreciar pela internet, enviar mensagens que afetem a intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento.
Adolescentes como grupo de risco
Embora possa atingir várias faixas etárias, o bullying ocorre com mais frequência na idade escolar.
“Quando a gente trata do bullying, pensamos em estudantes – crianças e adolescentes. Mas o bullying acontece em outras dinâmicas nas quais alguém, de forma intencional e repetitiva, utiliza a força física ou psicológica para subjugar outra pessoa que não tem a capacidade de se defender. Nesses casos, o fenômeno ganha outros nomes, como assédio moral ou organizacional”, esclarece Benjamin Horta.
A adolescência é a fase que mais demanda atenção, segundo o educador.
“Adolescentes são um grupo de risco por estarem passando por uma transição na qual buscarão, na infância, recursos para se defender. Aqueles que não tiverem esses recursos vão se fragilizar mais”.
Consequências do bullying
O bullying afeta principalmente o bem-estar de quem sofre as agressões e intimidações.
A vítima é submetida ao estresse, que tende a aumentar quando ela não consegue se defender. Isso pode comprometer a saúde mental e resultar em:
- Queda de autoestima;
- Isolamento;
- Crises de choro;
- Mudanças no comportamento habitual;
- Perda de motivação;
- Baixo rendimento escolar;
- Traumas psicológicos;
- Fobia escolar.
O bullying também traz consequências negativas para quem pratica.
“Quem pratica o bullying está pedindo ajuda. Os pais e as escolas precisam estar atentos porque existem pesquisas mostrando que, na fase adulta, muitos agressores desenvolvem depressão, instabilidade emocional no emprego, uso excessivo de álcool ou de outras substâncias, entre outros problemas”, alerta Horta.
Como combater o bullying na escola
Para prevenir o bullying, a principal estratégia é a conscientização.
Capacitar professores e funcionários da comunidade escolar é o primeiro passo para que compreendam o problema e possam identificar casos.
Outra medida eficaz é falar abertamente sobre o tema – e com frequência – em aulas, rodas de conversa e projetos.
Os debates reforçam aos potenciais agressores que comportamentos negativos não são tolerados. Já as possíveis vítimas encontram espaço para se colocar e também para criar coragem de exigir respeito.
“Os alunos precisam compreender, por meio da educação, os direitos e os deveres que eles possuem”, frisa Benjamin Horta.
O pedagogo acrescenta que o ideal é criar um ambiente de acolhimento nas escolas.
“Como resultado de programas preventivos, os alunos começam a ajudar uns aos outros. Começam a surgir manifestações do grupo a favor de alguém, os alunos passam a reivindicar respeito e a usar canais de denúncia.”
Para combater o bullying, é importante que as famílias estejam em sinergia com as ações da escola.
“As famílias precisam estar envolvidas de forma participativa. Muitas vezes, os cuidadores querem que a escola resolva o problema sozinha. Mas é responsabilidade de todos zelar pela integridade física e psíquica das crianças e dos adolescentes”, destaca.
Mães, pais e responsáveis também podem orientar os filhos sobre como agir diante de situações de bullying.
O que a vítima de bullying pode fazer?
- Afastar-se, sem reagir às provocações;
- Pedir {em alto e bom som!} que o agressor pare de incomodar;
- Desarmar o agressor com palavras: “Não tô nem aí para o que você pensa!”
- Usar o humor: rir das provocações para deixar o agressor confuso;
- Buscar estar perto de amigos, já que os agressores costumam escolher quem está sozinho;
- Evitar lugares onde os agressores costumam estar;
- Pedir ajuda: falar com os educadores e com a família.
Cyberbullying: educação digital para prevenir
O cyberbullying é considerado um dos grandes desafios a serem enfrentados pelos adolescentes.
“Os estudantes passam, em média, sete horas por dia em seus celulares. E tanto eles quanto os pais ainda não têm dimensão dos riscos que existem na internet”, destaca Benjamin Horta.
A melhor maneira de prevenir o bullying virtual, segundo o pedagogo, é a educação digital.
“Precisamos focar nas responsabilidades que os alunos têm ao utilizar esses dispositivos. Os pais também podem usar ferramentas de controle parental e outros recursos para preservar os filhos da superexposição online”.
As crianças e adolescentes devem ser estimuladas a sempre pensar antes de publicar algo na web. Dados pessoais não devem ser compartilhados, assim como informações relativas à intimidade.
Os estudantes devem compreender ainda que a presença na internet deve ser positiva, assim como na vida real.
Postagens, fotos e comentários no ambiente virtual compõem a reputação individual e podem ficar online para sempre {mesmo que sejam apagadas posteriormente, podem ter sido “printadas” por alguém!}.
Outro ensinamento importante é respeitar a privacidade das outras pessoas. Informações ou imagens não devem ser compartilhadas sem consentimento.
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