Matéria atualizada em 6 de outubro de 2022.
A vacina contra a meningite faz parte do calendário vacinal de bebês e crianças, mas adultos também podem ficar atentos à própria proteção.
Causada por vírus, bactérias ou fungos, a doença é transmitida de uma pessoa para outra através de secreções respiratórias (salivas, espirro, tosse) e provoca a inflamação das meninges (membranas que recobrem o cérebro). Recentemente, voltou às manchetes por conta de alguns casos na cidade de São Paulo.
Mais precisamente, foram registrados cinco casos da meningite meningocócica do tipo C na região da Vila Formosa e Aricanduva, na zona leste da capital, de julho a setembro. Entre eles, havia uma mulher de 42 anos, que acabou falecendo.
{Já podemos chamar de surto de meningite, mas isso não significa que precisa ter pânico, ok?}
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde da capital afirmou que as pessoas consideradas próximas daquelas que adoeceram já receberam medicamentos preventivos.
Os cuidados estão concentrados na Vila Formosa e em Aricanduva. A vacinação está sendo oferecida a pessoas de 3 meses a 64 anos que estejam dentro da área de abrangência de quatro UBSs: Jardim IVA, Guarani, Vila Formosa II e Comendador José Gonzalez.
“Para receber a vacina, pessoas que residem nessa região devem apresentar comprovante de endereço. No caso de quem trabalha nas proximidades basta apresentar comprovante trabalhista, como crachá, holerite, carteira de trabalho atualizada ou declaração com nome da empresa, endereço e carimbo”, diz a nota da prefeitura.
Outros dois casos de meningite meningocócica foram registrados em São Paulo – um homem de 22 anos, que faleceu, e uma mulher de 20, que está sendo tratada. Eles são, respectivamente, da zona norte e da zona sul da cidade, então, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que eles não têm relação com o surto da zona leste.
Apesar do susto, vale ressaltar que o número de casos este ano diminuiu em relação a 2019. Em 2022, foram notificados 56 casos de meningite meningocócica entre janeiro e o dia 26 de setembro. No mesmo período de 2019, foram registrados 158 casos da doença. Ou seja, de lá para cá, houve redução de 64,5% nos casos da doença.
Existem formas de se proteger, e a principal delas é a vacinação. Provavelmente, você já a recebeu quando era criança, mas também dá para reforçar a imunização depois de adulto. Olha só como funciona.
Afinal, o que é meningite?
As meninges são três membranas que revestem o cérebro e a medula, que fica na coluna vertebral. A doença é a inflamação dessas camadas e pode ser causada por bactérias — que causam a meningite mais agressiva —, vírus ou fungos.
As letras usadas para falar da doença (A, B, C, W, X, e Y) se referem aos subtipos da bactéria Neisseria meningitidis.
A infectologista Larissa Gouveia, da Comunidade de Saúde da Alice, conta que o subtipo da doença mais comum no Brasil é o meningococo C — justamente o responsável pelo surto que está acontecendo nos dois bairros de São Paulo.
A doença também pode ser provocada por outras bactérias, como o pneumococo (Streptococcus pneumoniae), a bactéria da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) e a Haemophilus influenzae. A boa notícia é que também existem vacinas para esses tipos.
Como se pega meningite {e como prevenir?}
A principal forma de transmissão é pelas gotículas respiratórias, do mesmo jeito que acontece com a covid-19 e a gripe.
Por isso, vacinar-se, usar máscara e manter distância de um metro e meio das outras pessoas são medidas valiosas para evitar a meningite.
Existe vacina para meningite {ufa!}
Agora que você sabe que existem vários tipos e subtipos dessa doença, faz mais sentido entender por que tem tanto imunizante disponível.
Hoje, o SUS (Sistema Único de Saúde) dispõe destas vacinas gratuitas e nestas condições:
- BCG: a partir do nascimento, protege contra a meningite causada pela bactéria da tuberculose, a Mycobacterium tuberculosis;
- Pentavalente: aos 4 e aos 6 meses de idade, protege contra o Haemophilus influenzae, um dos possíveis causadores da meningite, principalmente em crianças;
- Vacina ACWY: dos 11 a 14 anos de idade, com ampliação para adolescentes de 13 e 14 anos até junho de 2023;
- Vacina contra meningite meningocócica C: aos 3 meses de idade, com reforço entre os 12 e 15 meses e na faixa de cinco anos.
A vacina contra meningite B não é oferecida pelo SUS, mas Gouveia recomenda levar o bebê para clínicas particulares a partir dos três meses — o reforço também fica em torno dos 12 e 15 meses.
Adultos precisam se vacinar contra a meningite?
“Geralmente, nós indicamos o reforço depois de adulto em casos de surtos, como o que está acontecendo, de exposição à doença, em pessoas com imunodepressão [como câncer e doença renal crônica], que têm HIV, pós-transplante de medula óssea, que precisaram tirar o baço ou que sofreram um acidente que causou algum trauma nesse órgão”, diz.
Em casos de surtos, é preciso ficar de olho nas UBSs que estão oferecendo o imunizante. Já pessoas com essas situações de saúde específicas podem se informar nos Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) — o de São Paulo fica no Hospital das Clínicas.
Quem não mora nas regiões afetadas pelo surto ou está fora destes grupos pode procurar a vacina em clínicas particulares caso queira se imunizar por conta própria.
“Se você conseguir ir numa clínica privada, dá para tomar a vacina ACWY e a vacina contra meningite B por conta própria”, afirma Michel Duailibi, médico de família e comunidade da Alice. Isso vale mesmo para quem já tomou a vacina quando era criança.
Quais são os sintomas da meningite?
Eles são parecidos com os de outras doenças. “A diferença é que, na meningite, os sinais aparecem de forma bem intensa”, acrescenta Gouveia. São eles:
- Dor de cabeça intensa;
- Vômito em jato (que vem “do nada”, sem ter enjoo antes);
- Febre;
- Confusão mental;
- Respiração ofegante;
- Dores nos músculos e articulações;
- Manchas ou pontinhos vermelhos na pele;
- Rigidez na nuca.
Meningite: quando procurar ajuda médica?
O quadro de meningite meningocócica costuma evoluir rapidamente. “Então, uma vez que esses sintomas aparecem de forma muito intensa e sabendo que há um surto na cidade, é importante procurar um pronto-socorro se esses sinais surgirem”, orienta Gouveia.
Ter o apoio da equipe de saúde na hora certa é fundamental para evitar as sequelas que a meningite pode deixar. Dependendo da região do cérebro que a doença atingir, a pessoa pode ter sequelas motoras, na visão, audição e capacidade de raciocínio.
“O impacto da meningite no organismo é tão grande que, em questão de horas, pode levar ao chamado quadro de choque séptico. Isso significa que o corpo pode ficar em um estado de falência geral, o que pode levar a situações mais graves, como a amputação de membros.”
Como é o tratamento da meningite?
O exame para detectar a doença checa a saúde do líquor, ou líquido cefalorraqueano, que é colhido pela lombar. A equipe de saúde também pode pedir outros exames, como o de sangue.
O tratamento vai depender do tipo de meningite. Por exemplo, no caso da meningite bacteriana {como a do surto que ocorre na zona leste da capital}, a pessoa fica internada e recebe antibiótico na veia por, pelo menos, sete dias.
Na meningite viral, bastam remédios para aliviar os sintomas {e paciência para o vírus ir embora}. Já a meningite fúngica pede que a pessoa tome antifúngicos na veia.
Sabemos que a meningite assusta, mas ela tem prevenção e cura. “Ela é uma doença que a gente considera imunoprevenível, ou seja, a gente consegue reduzir a quantidade de casos e as formas graves dos casos por meio da vacinação”, assegura a infectologista da Alice.
Veja mais: O que fazer para fortalecer a imunidade?
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