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O alerta na saúde suplementar do Brasil

Relatório publicado pela ANS aponta aceleração dos custos assistenciais, o que também impacta na qualidade dos planos de saúde.

Peças de madeira quadradas formam um gráfico de barras crescentes em um fundo cinza
Baseado em evidências científicas

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Daniel Knupp
Daniel Knupp | Colunista do Blog da Alice

Graduado em medicina pela UFMG, é médico do Time de Saúde da Alice, atuando como liderança do time médico de atenção primária. Especialista em Medicina de Família e Comunidade pelo Hospital Municipal Odilon Behrens, onde atuou também como preceptor e coordenador do programa de residência, é mestre em epidemiologia pela Fiocruz e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

Recentemente a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) publicou relatório que traz o panorama do setor no segundo trimestre de 2024. Como já esperado, o cenário mostrado é um panorama nada positivo em comparação com os números que vinham sendo vistos ao longo do ano passado.

O relatório mostra uma tendência de aumento nos custos assistenciais, que alcançaram o patamar de R$ 233 bilhões ao ano. Para se ter uma referência do que esse número representa, há exatos 5 anos, os custos estavam em R$ 134 bilhões de reais ao ano. Isso significa um aumento de custos na ordem de 73,8%, que é o dobro do IPCA no mesmo período (36,09%, segundo o IBGE).

A inflação de preços em saúde tem de fato uma tendência de superar a inflação na economia em geral. Historicamente no Brasil a elevação nos custos assistenciais das operadoras tem superado o IPCA e vem sendo acompanhada de uma elevação bastante proporcional no custo dos planos de saúde.

Nos últimos anos, houve uma exceção durante a pandemia de covid-19, particularmente no ano de 2020, quando ocorreu uma desaceleração no aumento dos custos assistenciais. Entretanto, passando-se esse momento, os custos assistenciais voltaram a dar fortes sinais de elevação.

Tendência de piora na qualidade da assistência

O cenário resultante desse fenômeno é bastante desfavorável não só para as operadoras de saúde, mas também para as pessoas e empresas que buscam contratar um plano de saúde. Especialmente para as empresas, para as quais, pelas regras da ANS, não se estabelecem limites para o reajuste no valor dos planos.

No final das contas, o modelo vigente termina por levar a uma piora na qualidade dos serviços. As operadoras, por um lado, muitas vezes recorrem a estratégias de controle de custo que são perniciosas para os cuidados em saúde, como deixar de oferecer serviços que são de cobertura obrigatória, glosar procedimentos que são pertinentes ou optar por insumos de menor custo, mas tecnicamente inferiores.

Por sua vez, diante de reajustes elevados, muitas empresas acabam não tendo outra opção a não ser abrir mão de seus planos de saúde ou substituir por planos mais baratos, que adotam práticas prejudiciais à qualidade assistencial.

Persistindo-se essa tendência, existe a possibilidade de que, em alguns anos, os custos com planos de saúde estarão proibitivos para as empresas. O que levaria a uma retração no mercado, com perspectivas negativas para as operadoras de planos de saúde, que precisarão competir cada vez mais por menor preço em detrimento da qualidade dos serviços oferecidos.

Infelizmente não é muito difícil se imaginar esse cenário. Atualmente, estimativas apontam que os gastos com planos de saúde representam em média 14% do faturamento das empresas, podendo chegar até 20% em alguns casos.

Numa perspectiva de elevação dos valores, somente as empresas que têm uma necessidade de maior utilização dos planos de saúde permanecerão no mercado, levando a um viés de aumento de sinistros, que certamente agrava ainda mais a situação das operadoras.

Atenção primária como alternativa ao modelo vigente

A saída para esse cenário pessimista está numa revisão do modelo de atenção no qual se estruturam os serviços de saúde das operadoras. É fundamental que se desenvolvam modelos baseados na Atenção Primária à Saúde (APS), que possam garantir ganho de eficiência a partir da continuidade e coordenação de cuidado, características desses serviços. Não é por acaso que na Alice é esse o modelo que utilizamos.

Já há alguns anos sabe-se que os sistemas de saúde que têm como base uma Atenção Primária à Saúde forte de qualidade conseguem garantir não apenas desacelerar a elevação dos custos em saúde (controlar a inflação no setor) como também melhorar a qualidade assistencial.

Atenção primária para empresas

Essa garantia da qualidade no atendimento se dá a partir de um melhor cuidado às pessoas com doenças crônicas e com multimorbidade, de mais ações de prevenção e promoção de saúde, mas principalmente de uma abordagem integral e centrada nas pessoas, baseada na continuidade e coordenação do cuidado.

É a partir desse modelo que a Alice é capaz de estruturar todo um sistema de saúde mais eficiente, que adota práticas baseadas nas melhores evidências científicas e visa à entrega de valor (ou seja, saúde) para nossos membros. E, para as empresas, isso tem um significado muito claro e direto, que consiste em:

1) Pessoas mais saudáveis, autônomas e plenas em suas potencialidades;
2) Maior previsibilidade e menores reajustes nos valores contratados.

Atenção Primária à Saúde: o que é e por que ela é importante

Finalmente, é importante lembrar que não basta afirmar que há um modelo baseado na Atenção Primária à Saúde. É preciso se perguntar do que exatamente se está falando. Ou seja, como a operadora define o papel da APS na sua rede e como estrutura esse time. Não se pode relativizar o que se entende por APS; há limites que precisam ser vistos. Mas isso é assunto para nossa próxima coluna.

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