Mais da metade da população mundial (52%) sofre com dores de cabeça uma ou mais vezes por ano. Essa foi a conclusão de uma revisão de mais de 300 estudos conduzida pela iniciativa Global Burden of Disease, responsável por amplas pesquisas epidemiológicas que servem de referência, entre outros, para a OMS (Organização Mundial de Saúde). O levantamento foi publicado em abril deste ano no Journal of Headache and Pain.
Uma das formas de dor de cabeça, a enxaqueca, aliás, é a doença neurológica mais incapacitante no mundo, segundo especialistas.
“Costuma-se minimizar, dizer que é algo comum, que todo mundo tem, até estigmatizar quem falta ao trabalho por causa disso, mas não é besteira. Há relatórios da OMS que consideram ela tão incapacitante quanto uma pessoa que perdeu os movimentos das pernas. Faz sentido, porque a pessoa realmente não consegue fazer mais nada”, explica Lívia Ces Guedes Pereira, médica especializada em medicina de família e comunidade e formada na Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.
Quais os tipos de dores de cabeça?
Se você é uma pessoa que sofre com esse desconforto, saiba que há como melhorar a dor de cabeça e, em alguns casos, até táticas para preveni-la, explica a médica.
Mas, para entender as causas da dor e as melhores maneiras de aliviá-la, é importante saber que as cefaleias são classificadas em:
- primárias, quando elas se encerram em si mesmas;
- secundárias, quando são sintomas de alguma doença subjacente (como dengue, covid-19 etc.)
As dores primárias configuram a maioria dos casos de cefaleias, e podem ser divididas em quatro tipos, sendo os dois primeiros os mais comuns:
Enxaqueca
É uma condição crônica, mas a Ciência ainda não sabe responder exatamente qual sua causa. Sabe-se apenas que ela atinge mais as mulheres, possui um componente genético e tem alguns efeitos desencadeantes para as crises, como privação de sono, consumo de alguns tipos de alimentos maturados, como queijos e vinhos, além de aspectos hormonais (os quadros começam na puberdade e reduzem na menopausa). “É como se a cabeça da pessoa fosse hipersensível a alguns estímulos, mas não se sabe exatamente por quê”, diz a médica Lívia Ces Guedes Pereira.
Cefaleia tensional
É causada por uma tensão muscular na região da cabeça, seja por uma predisposição individual, pelo estilo de vida ou por questões circunstanciais, como o estresse.
Cefaleia cervicogênica
Geralmente é causada por algum trauma cervical. Esse tipo de dor de cabeça também traz um componente tensional, porque, quando a cervical sofre um trauma, ocorre um tensionamento da musculatura que eventualmente pode envolver alguns dos nervos da região (todos os nervos da nossa cabeça saem da coluna, de dentro da base do crânio). Então, se há uma compressão ali, isso pode causar dor de cabeça.
Cefaleia em salvas
Ela acontece de forma periódica (“em salvas”), é muito intensa e não tem uma doença subjacente por trás, o que faz muitos estudos a considerarem um tipo de enxaqueca, apesar de ser mais prevalente em homens. A pessoa pode passar dois, três meses ou até mais tempo sem ter nenhuma crise, mas, quando ela se manifesta, há episódios seguidos em um curto espaço de tempo.
O que pode causar dor de cabeça?
A causa da dor de cabeça varia de acordo com o tipo, como você acabou de ver.
De acordo com a Mayo Clinic, no caso das dores de cabeça primária, esses fatores podem estar envolvidos:
- Hiperatividade ou problemas com as estruturas que determinam a sensibilidade à dor;
- Atividade química no cérebro;
- Nervos ou vasos sanguíneos em volta do crânio;
- Músculos da cabeça e do pescoço (ou uma combinação desses fatores);
- Propensão genética;
- A combinação desses fatores.
Já algumas das possíveis causas da dor de cabeça secundária são:
- Sinusite aguda;
- Aneurisma cerebral;
- Desidratação;
- Infecção de ouvido;
- Glaucoma;
- Ressaca;
- Gripe;
- Meningite;
- Efeito colateral de algumas medicações;
- AVC;
- Hipertensão;
- Trombose venosa (coágulo de sangue) no cérebro.
Quais os principais sintomas da dor de cabeça?
Eles variam de acordo com o tipo de dor de cabeça, segundo a Johns Hopkins Medicine:
Enxaqueca:
- Antes da dor começar, a pessoa pode ter uma alteração de humor ou comportamento, chamada de pródromo;
- Alterações na visão, alucinações, dormência, alterações na fala e fraqueza muscular. Esses sintomas configuram a chamada aura;
- A dor costuma ser latejante e pode acontecer em um só lado ou nos dois lados da cabeça;
- Sensibilidade à luz e ao movimento;
- Fadiga, ansiedade e depressão;
- Depois que a dor passa, pode haver fadiga, irritabilidade e dificuldade de concentração.
Cefaleia tensional:
- Início lento;
- Dor de leve a moderada dos dois lados da cabeça, como se uma faixa a envolvesse;
- O incômodo pode pegar a parte de trás da cabeça e o pescoço.
Cefaleia em salvas
- Pode durar semanas ou meses;
- Dor intensa em um dos lados da cabeça, normalmente atrás de um olho;
- O olho afetado pode ficar vermelho, lacrimejando e com a pálpebra inchada;
- Congestão nasal ou coriza;
- Testa inchada.
Qual é o melhor remédio para dor de cabeça?
Segundo Guedes Pereira, em geral, quando uma pessoa adulta começa a sentir uma dor de cabeça leve, sem outros sintomas adjacentes (como febre ou tosse), geralmente ela está autorizada a se automedicar com um remédio de baixo risco, como analgésicos ou antitérmicos.
Ou seja, o primeiro protocolo pode ser tomar um comprimido de um analgésico ao qual a pessoa já esteja acostumada, como dipirona ou paracetamol, a depender das preferências e restrições {quem tem alergia a essas medicações deve passar longe}.
Além de hidratação e repouso, outras medidas complementares também podem ajudar a manejar a dor, como banhos quentes, escalda-pés e compressas no pescoço (quentes ou frias, pois promovem uma vasodilatação ou vasoconstrição que ajudam na circulação).
No caso da cefaleia tensional, compressas quentes costumam funcionar melhor, porque o calor relaxa a musculatura.
Quando ir ao médico é necessário?
“Se você tomou alguma das medidas citadas acima e a dor não estiver melhorando ou piorando após uma hora, aí vale a pena passar por uma avaliação profissional”, explica a especialista.
Membros da Alice podem acionar o Time de Saúde pelo app. O mesmo vale para quando a dor é recorrente, ocorre durante vários dias ou passa a ser acompanhada por outros sintomas.
Anti-inflamatórios (como o ibuprofeno), por mais que também possam ser de baixo risco, não devem ser usados sem orientação médica, porque, caso seja uma dor de cabeça advinda de um quadro de dengue, eles aumentam o risco para sangramentos, por exemplo.
De forma geral, a médica desaconselha o paciente a se automedicar repetidamente e em um curto espaço de tempo, sob o risco de mascarar a evolução de uma doença subjacente mais grave.
No caso da cefaleia em salvas, explica a médica, não há muito a se fazer em casa, mas, no hospital, é administrado oxigênio ao paciente, o que costuma aliviar as crises.
Técnicas para melhorar a dor de cabeça
A melhor maneira de aliviar os desconfortos causados pela dor de cabeça vai depender muito da causa dela, explica a médica.
Tratamento para enxaqueca
Como a enxaqueca é uma doença crônica, quem sofre dela geralmente já tem um acompanhamento e faz tratamentos preventivos, que podem conter ou não medicamentos.
Um dos principais métodos para prevenir as crises é evitando os fatores que podem desencadear os episódios em algumas pessoas, que são até estimuladas a manter um diário de cefaleia, para que esses gatilhos possam ser identificados e evitados.
Evite os gatilhos para enxaqueca
Os gatilhos mais comuns são, segundo estudos compilados pelo British Medical Journal (BMJ) e complementados pela médica Lívia Ces Guedes Pereira:
- Alto consumo de cafeína, pois a substância aumenta o risco de crises e enxaqueca crônica, especialmente em mulheres mais jovens e em indivíduos com cefaleias crônicas de início recente. Por outro lado, a supressão súbita de cafeína também pode desencadear sintomas;
- Alimentos específicos, como queijos maturados, chocolate, além de bebidas alcoólicas, como vinho;
- Mudanças climáticas, pois alterações na temperatura, umidade e/ou pressão atmosférica podem desencadear crises em alguns pacientes;
- Altitudes elevadas, que podem aumentar a prevalência e a intensidade da crise;
- Odores específicos, como perfumes fortes;
- Alguns tipos de pílulas anticoncepcionais, o que torna muito importante relatar a enxaqueca a(o) ginecologista;
- Sono inadequado, estresse, depressão, ansiedade e abuso de medicamentos também são fatores de risco para enxaquecas.
Como aliviar dor de cabeça sem remédio
Outras estratégias de prevenção da enxaqueca podem incluir tratamentos não farmacológicos, interessantes sobretudo para gestantes ou mulheres que estão tentando engravidar e não querem tomar remédios, segundo o BMJ.
São elas:
- Terapias psicológicas, como relaxamento assistido ou terapia cognitivo-comportamental;
- Exercícios físicos, pois há evidências de que podem reduzir a frequência da enxaqueca e o número de dias na crise;
- Fisioterapia e acupuntura, embora haja menos evidências científicas quanto aos benefícios delas.
Mas, quando a crise vem, além da medicação específica prescrita pelo médico, alguns protocolos podem ser adotados para atenuar o desconforto, como:
- Repousar no escuro e em silêncio, já que dois sintomas clássicos são a fotofobia e a fonofobia;
- Compressa fria para quando a cabeça está em uma temperatura elevada;
- Alimentação leve, porque a enxaqueca também geralmente vem acompanhada de náusea, e uma comida muito pesada pode agravar o quadro.
Como evitar dor de cabeça?
Mais uma vez, isso dependerá do tipo de dor. No geral, o indicado é evitar os gatilhos que você já conhece, reduzir o estresse e promover mudanças no estilo de vida, se alimentando bem e praticando atividades físicas.
No caso da enxaqueca, tanto aderir a tratamentos preventivos quanto evitar os gatilhos são algumas das formas de evitar o mal-estar.
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