A complexidade do cérebro humano pode ser demonstrada em números. O órgão possui mais de 1 trilhão de células, sendo 100 bilhões de neurônios capazes de fazer cerca de 5.000 conexões (sinapses) cada um.
Entender como tudo isso funciona ainda é um desafio para a Ciência. Além de intensa atividade, o cérebro sofre influência de fatores internos e externos, que provocam constantes transformações.
Aos poucos, porém, novas descobertas encontram evidências de que o cérebro pode ser moldado para diferentes fins.
A maior parte das pesquisas se concentra em buscar maneiras de superar dificuldades de aprendizado ou de recuperar habilidades afetadas por doenças e traumas.
Os neurocientistas também acreditam que podemos treinar o cérebro para sermos mais felizes. Parte-se do princípio de que devemos buscar os estímulos certos para ativar determinadas regiões e mecanismos que trazem a sensação de felicidade.
Neuroplasticidade: cérebro muda com as experiências vividas
A neuroplasticidade é um processo que envolve mudanças estruturais e funcionais adaptativas no cérebro. É também definida como a capacidade do sistema nervoso de alterar sua atividade em resposta a estímulos.
Estudos nesse campo sugerem que o órgão consegue mudar de acordo com as experiências vividas e com a forma como é usado.
“Abraçar uma nova atividade, que também o force a pensar e aprender, e requeira prática contínua, pode ser uma das melhores maneiras de manter o cérebro saudável”, afirmou o médico John N. Morris, diretor do Institute for Aging Research da Universidade de Harvard, em artigo publicado pela instituição.
Cada habilidade que desenvolvemos e a maneira como direcionamos a nossa atenção estimulam uma área específica do cérebro ou várias.
Algumas pessoas podem estar naturalmente conectadas para um padrão emocional mais receptivo a estímulos que provoquem sentimentos positivos, mas quem não tem essa espécie de pré-programação genética pode fortalecer as conexões neurais que ativam diversas regiões do cérebro.
Trabalhos científicos mostraram que, ao direcionarmos nossa atividade mental, podemos ter benefícios ligados ao aprendizado e ao bom humor.
Quando focamos nossa mente em arrependimentos ou coisas ruins, acabamos construindo os substratos neurais para pensamentos e sentimentos negativos.
Por outro lado, se colocarmos nossa atenção nas coisas pelas quais somos gratos ou nas pequenas realizações do cotidiano, construímos substratos neurais relativos à felicidade.
Neurotransmissores ativam hormônios que nos deixam felizes
Os diversos fatores associados à felicidade costumam ser avaliados em duas dimensões: interna (fatores biológicos, genéticos, cognitivos, da personalidade e éticos) e externa (aspectos comportamentais, socioculturais, econômicos, geográficos, entre outros).
Entre os fatores biológicos, destaca-se o papel desempenhado pelos neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios, que são capazes de interferir na liberação de hormônios que afetam a felicidade, como cortisol, adrenalina e ocitocina.
De acordo com uma meta-análise de estudos sobre o tema, os neurotransmissores que mais influenciam a atividade desses hormônios são a dopamina, a serotonina, a norepinefrina, a melatonina e a endorfina.
A dopamina é associada ao bom-humor. A serotonina media a satisfação, a felicidade e o otimismo. Em pessoas com depressão, o nível desse neurotransmissor costuma estar reduzido.
A norepinefrina também está relacionada à felicidade e, muitas vezes, compõe a fórmula de antidepressivos. Já a melatonina está ligada a uma boa noite de sono.
A endorfina é ativada durante várias atividades como exercício contínuo, medo, amor, música, risos, sexo, orgasmo etc.
Para dar uma forcinha ao cérebro na ativação de neurotransmissores e hormônios, a dica é incluir exercícios físicos e atividades prazerosas na rotina.
Fazer uma caminhada ao ar livre todos os dias, por exemplo, é uma maneira de aumentar a produção de serotonina e de endorfina. Outra forma é sair com os amigos.
Para ajudar o corpo a produzir os hormônios da felicidade, vale também compartilhar uma refeição com alguém que amamos. O prazer relacionado à boa mesa pode desencadear a liberação de dopamina e endorfinas.
12 dicas para ativar os neurotransmissores da felicidade
- Pratique a gratidão
- Faça exercícios físicos regularmente
- Caminhe ao ar livre
- Mantenha sua vida sexual ativa
- Procure atividades que te façam rir
- Faça refeições saborosas
- Coma chocolate (sem exageros!)
- Ouça música ou dance
- Medite ou faça yoga
- Direcione a atenção para o positivo
- Cultive boas memórias
- Durma bem
Como treinar a mente para ressignificar memórias e pensamentos
Outra maneira de treinar o cérebro para a felicidade está na estimulação das áreas ligadas à memória.
Um estudo recente mostrou que reinterpretar situações negativas passadas, tentando se concentrar em aspectos positivos relacionados a esses eventos, aumenta a sensação de emoção positiva.
Alguém que sofre com um rompimento amoroso, por exemplo, pode tentar perceber o que aprendeu com essa relação, quais comportamentos deseja melhorar ou ter outro insight sobre o que é mais agradável na vida a dois.
Segundo os pesquisadores, o processo de reconsolidar as recordações permite que novas informações sejam incorporadas ao traço de memória.
Isso não significa inventar lembranças falsas, mas atualizar as memórias com novos conteúdos que nos permitam relembrar aspectos menos negativos e focar no que uma situação vivida pode trazer de positivo.
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