Nem sempre é fácil calcular o ciclo menstrual. Quem nunca se surpreendeu com a chegada inesperada da menstruação uns dias antes (ou depois) do previsto?
Seguir as fases da Lua ou as folhas do calendário podem não funcionar porque a realidade está mais próxima de uma montanha-russa hormonal, com níveis que variam a cada mês, a depender das emoções da vida.
O que é ciclo menstrual?
Dividido em quatro fases – menstrual, folicular, ovulatória e lútea –, o ciclo menstrual caminha por cada etapa “empurrado” pelos hormônios produzidos pelo chamado eixo hipotálamo-hipófise-ovário, que faz uma comunicação entre o cérebro e o sistema reprodutor.
O objetivo é sempre o mesmo: preparar o organismo para a geração de um bebê. Quando isso não acontece, e o óvulo não é fecundado (ou seja, não se torna um embrião), a menstruação desce o canal da vagina e um novo ciclo começa.
Os ciclos podem variar de 21 a 35 dias. Isso significa que, se a menstruação chegar a cada 21 ou a cada 35 dias (ou entre esses períodos), está tudo certo!
Quais são as fases do ciclo menstrual?
A ideia aqui não é dar uma aula de biologia, mas é importante conhecer cada etapa pela qual passa o organismo {até para entender por que a TPM ataca}. Então, vamos de passo a passo:
1. Fase menstrual
O pontapé inicial para a fase menstrual acontece quando o óvulo produzido pelo ovário não é fertilizado pelos espermatozoides.
Isso dispara no organismo a mensagem de que não será mais necessário manter o útero preparado para formar um bebê e, por isso, ele pode induzir a menstruação, a partir da redução dos níveis dos hormônios estrogênio e progesterona.
Inclusive, é a diminuição da progesterona que desencadeia os quadros da TPM, a famosa tensão pré-menstrual, segundo Ana Carolina Japur de Sá Rosa e Silva, médica ginecologista e professora da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto.
“Tem gente que tem TPM, com sintomas de alteração do humor, dor nas mamas e retenção de líquidos, e quem não tem. Isso está relacionado à sensibilidade de cada pessoa”, explica a médica, que também é especialista em reprodução humana e vice-presidente da comissão nacional especializada de ginecologia endócrina na Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Menstruar nada mais é do que descamar a parte interna do útero, formada por um tecido celular chamado de endométrio, que também contém sangue. Ele existe porque, se houvesse um óvulo fecundado, o embrião se prenderia à essa parede para se desenvolver em um feto.
A duração da fase menstrual é, em geral, entre três a sete dias {apesar de às vezes parecer interminável, né?}.
Sentir cólicas é comum nesse momento, já que o útero está contraindo para liberar o endométrio. Caso a dor seja muito intensa, é preciso ficar atento(a) à endometriose, que ocorre quando, ao invés de sair pela vagina, o tecido sobe aos ovários ou à cavidade do abdome. De acordo com dados da Febrasgo, outros sintomas comuns da condição são:
- Dor genital durante a relação sexual (dispareunia);
- Dor pélvica;
- Alterações intestinais e urinárias (constipação, sangramento na urina ou nas fezes, dor na região anal durante o período menstrual ou mesmo dor ao urinar, e muita vontade de urinar ao longo do dia);
- Infertilidade.
“Muitas vezes, as pessoas não gostam de menstruar, mas é um marco da saúde ginecológica. Se ele atrasa, se o fluxo muda, se tem dor ou odor, são sinais para buscar ajuda”, explica Larissa Cassiano, médica ginecologista e obstetra da Comunidade de Saúde da Alice.
Por que o ciclo “começa” pela menstruação?
Pode até parecer contraintuitivo começar pelo “fim”, mas o cálculo do ciclo menstrual fica muito mais fácil assim, segundo a médica Larissa Cassiano. Afinal, a menstruação pode se alongar por vários dias {mesmo que só tenha sobrado um pouquinho de endométrio para sair}. O dia de início, porém, é mais fácil de identificar e lembrar.
É por isso que o cálculo da gestação também parte do primeiro dia da última menstruação. “Com isso temos um marco melhor e conseguimos fazer os cálculos com mais acurácia”, explica.
2. Fase folicular
Menstruação iniciada, o corpo já entendeu que não terá que se preocupar em produzir um bebê neste ciclo e parte para a próxima fase, a folicular.
No cérebro, a região do hipotálamo conversa com a glândula pituitária (ou hipófise) e juntas decidem pela liberação do hormônio folículo-estimulante (FHS) no ovário. Esse é o hormônio responsável pela produção dos folículos que, mais tarde, darão origem ao óvulo.
“O folículo é uma espécie de casulo do óvulo, que não cresce se não estiver dentro dessa estrutura. Ele se assemelha a uma bexiga e cresce conforme o desenvolvimento do óvulo”, explica a médica ginecologista Ana Carolina Silva.
Ao mesmo tempo, o útero também passa por transformações na sua camada interna, para esperar a ovulação e ter espaço para um possível embrião. Quem comanda essa preparação são as células do folículo, que produzem os hormônios estrogênio e progesterona.
Esses hormônios são os responsáveis pelas características femininas, como a pele mais lisa, a distribuição de gordura e a ausência de pelos. “Quando a mulher entra na menopausa, não tem mais a produção do folículo, e perde-se a capacidade de produzir o hormônio feminino. Por isso, as características mudam, com a pele mais seca e a gordura acumulada mais na barriga do que no restante do corpo”, explica Silva.
Em geral, apenas um folículo (com um óvulo) cresce a cada ciclo, e quem comanda a ovulação é o cérebro, a partir da produção dos hormônios FSH e o LH (hormônio luteinizante). Segundo a médica, para a menstruação ocorrer de forma regular, é preciso que uma quantidade certa de hormônios sejam secretados. Do contrário, surgem os distúrbios.
“É um sistema que precisa funcionar perfeitamente, com a quantidade certa de hormônio liberado a cada pulso, em um certo tempo. Se mudar esse padrão, perde a capacidade de ovulação daquele ciclo e a menstruação fica bagunçada”, detalha.
E o que interfere nesse padrão? Acertou quem lembrou dos estresses do dia a dia.
Segundo a médica, o cérebro trabalha com substâncias chamadas de neurotransmissores, como a endorfina, serotonina e a adrenalina, que fazem a comunicação entre os neurônios. Quando há uma alteração neles, altera-se o padrão de secreção do FSH e do LH.
“Uma atleta profissional que faz exercício físico demais tem um aumento na secreção da endorfina, que pode interferir no padrão da menstruação. O mesmo acontece com pessoas com quadro depressivo, que mexe com a secreção da serotonina”, explica.
Larissa Cassiano, médica ginecologista e obstetra, lembra também do impacto do sono, dieta e mudanças de rotinas no ciclo. “As pessoas não percebem o quanto os hormônios são o centro do nosso corpo. Se eu dormir mal, eu terei mudança hormonal”, afirma.
Em geral, a fase folicular dura 16 dias, mas pode variar de 11 a até 27 {afinal, vale lembrar que cada corpo é único}.
3. Fase ovulatória: quanto tempo dura a ovulação?
Quando o óvulo está maduro o suficiente para sair do ovário, seguir pelas tubas uterinas (antes conhecidas como trompas de Falópio) até o útero e, no caminho, possivelmente encontrar os espermatozoides, a glândula pituitária libera o hormônio luteinizante, o LH. É ele quem dá o início à fase da ovulação.
Esse é o momento do ciclo menstrual em que é possível engravidar. E alguns sintomas dão a dica, caso a contagem dos dias não ajude a determinar o período exato.
4. Fase lútea
Enquanto o óvulo caminha pelas trompas até o útero, dentro do ovário começa uma nova fase.
O folículo que, durante dias, produziu o óvulo se transforma em corpo lúteo e atua agora na secreção da progesterona, conhecida também como o hormônio da gravidez.
“Ela finaliza o preparo do útero porque, se a mulher engravidar, terá altos níveis de progesterona durante a gestação, já que é um hormônio produzido pela placenta também”, explica Silva. Outro hormônio produzido pela placenta é o hCG, ou gonadotrofina coriônica humana – conhecida pelos exames de sangue que detectam a gravidez.
Se não houver a fecundação e a implantação do embrião, o corpo lúteo se degenera e paralisa a produção do hormônio. Ao diminuir a progesterona, vêm os sintomas da TPM e, na sequência, a menstruação – fechando o ciclo menstrual.
A fase lútea dura, em média, 14 dias, mas pode variar entre 11 a 17 dias.
Como saber meu período fértil?
Dos sintomas que podem surgir durante a fase ovulatória, ou o período fértil, os mais comuns são:
- Secreção vaginal transparente, mas um pouco mais grossa, que se assemelha à textura da clara do ovo;
- Dor de intensidade leve na região do baixo ventre;
- Aumento na libido;
- Aumento sutil na temperatura corporal basal (para calcular, é preciso medir a temperatura do corpo com um termômetro comum, como o digital, todos os dias, e identificar os seus padrões. O período mais fértil é, em geral, dois dias antes do aumento na temperatura.).
Quanto tempo depois da menstruação vem o período fértil?
Em geral, a ovulação acontece no 14º dia após a menstruação, caso tenha um ciclo de 28 dias – que é o mais comum.
A fase ovulatória é bem rápida, com uma duração de cerca de 36 horas, segundo explica Silva. Se nesse período não for fertilizado, o óvulo se dissolve e segue embora com a menstruação.
Calculadora menstrual
Cada fase tem um período, mas é importante lembrar que o ciclo menstrual não segue, necessariamente, o calendário.
Há quem tenha ciclos mais longos que os 30 (ou 31) dias do mês; o mais comum é entre 21 a 35 dias.
Confira abaixo a média de tempo de cada etapa do ciclo menstrual:
- Fase menstrual: entre três a sete dias, mas pode ser mais;
- Fase folicular: cerca de 16 dias, mas pode variar de 11 a 27 dias;
- Fase ovulatória: 36 horas;
- Fase lútea: 14 dias, mas pode variar de 11 a 17 dias.
Menstruação irregular: o que pode ser?
Se o ciclo menstrual não segue um padrão e a cada mês vem em um período diferente – às vezes a cada 21 dias e, em outros, a cada 40 –, a culpa pode ser dos distúrbios da ovulação.
“São alterações endocrinológicas que acabam levando a uma não ovulação, ou a uma ovulação de má qualidade”, explica Silva.
Para tratar, primeiro é preciso entender o que está interferindo, e as causas vão desde uma mudança nos níveis dos neurotransmissores que prejudicam a secreção dos hormônios a doenças como o hipertireoidismo, que é a produção excessiva dos hormônios T3 e T4 pela tireoide.
“É preciso corrigir o que está desencadeando essa alteração. Se é a doença na tireoide, tratá-la. Se for o estresse, tentar controlá-lo. Se está relacionado a alguma medicação, substitui-la. Em alguns casos, pode ser necessário repor os hormônios”, afirma a médica ginecologista.
Segundo Silva, esses distúrbios são mais comuns nos extremos da chamada vida reprodutiva – logo depois da primeira menstruação e nos últimos anos antes da menopausa.
“Na pré-menopausa, quase todas as mulheres sofrem com mudanças na característica do ciclo. E na adolescência é muito comum menstruar duas ou três vezes no ano, até que o eixo aprenda a funcionar e amadureça”, destaca.
Distúrbios como a síndrome dos ovários policísticos (ou a formação de cistos dentro do ovário) também prejudicam o ciclo menstrual e, embora possam ser controlados, não são curados.
Síndrome dos ovários policísticos: todo mundo tem?
Se parece que muita gente tem o diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos, a médica ginecologista Ana Carolina Silva explica um possível motivo:
“Nessa fase da adolescência, a menstruação fica muito irregular e o padrão de secreção dos hormônios também favorece a pele mais oleosa e as espinhas, que são características comuns do ovário policístico. Mesmo o formato do ovário, visto pelo ultrassom, pode ter um crescimento meio anormal de folículos, porque o cérebro envia um comando de que ainda não está maduro”, explica.
Como consequência, alguns diagnósticos da síndrome podem não ser, exatamente, corretos, já que se trata de uma fase transitória. “As meninas recebem o diagnóstico, começam a tomar a pílula anticoncepcional e seguem assim por anos até que param e descobrem que não têm o ovário policístico”, relata.
Atualmente, segundo Silva, a tendência dos médicos e profissionais de saúde é evitar um diagnóstico muito precoce.
Embora a síndrome tenha que ser controlada, as mulheres são orientadas a, cerca de oito anos depois da primeira menstruação, interromper o uso do medicamento para conferir se o ciclo continua irregular ou não. “Com isso não rotulamos a pessoa com a síndrome.”
Anticoncepcional: como interfere no ciclo menstrual?
Se a pessoa usa métodos anticoncepcionais hormonais, como a pílula, o implante ou mesmo o anel vaginal, as fases do ciclo menstrual são diferentes.
Isso acontece porque as pílulas bloqueiam a secreção dos hormônios FSH e LH pelo cérebro, mas mantêm o estímulo da ovulação de uma forma artificial – sem amadurecer os óvulos!
Como o ovário produz progesterona, quando não há um embrião em desenvolvimento no útero, o hormônio diminui em quantidade, o que indica ao corpo que dá para liberar o endométrio e seguir com a menstruação.
Por isso que, segundo Silva, mesmo quem tem distúrbios como o ovário policístico podem menstruar – ainda que sem o óvulo.
Sem a saída dos óvulos do ovário, daria para imaginar que eles ficariam guardadinhos, certo? Infelizmente não é o caso, segundo a médica.
“A gente continua gastando óvulos, mesmo sem ovular, porque não atrasamos a idade da menopausa só porque tomamos anos de pílula. Não que a pílula faça algum mal para a reserva dos folículos, mas não aumenta e nem diminui a quantidade que temos”, explica.
O único método contraceptivo hormonal que não tem esse efeito é o DIU de hormônio – cujo ação é uterina e tem pouca absorção pelo restante do corpo. “O anel vaginal, adesivos, injetáveis e implante, todos trazem esse efeito de não ovular pelo bloqueio dos hormônios cerebrais”, afirma.
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