Com o formato de uma borboleta e localizada um pouco acima da base do pescoço, a tireoide é uma glândula bem conhecida e costuma ser bastante avaliada, em exames de imagem e de sangue
Isso acontece porque os sintomas que indicam alguma das disfunções mais comuns da tireoide {você já deve ter ouvido falar em hipo e hipertireoidismo} são bastante inespecíficos, e os exames de sangue que determinam como a glândula está funcionando são solicitados rotineiramente {alô, TSH, T3 e T4!}.
Além disso, a glândula também é analisada com frequência em exames de imagem em busca de possíveis nódulos – e aí entra um ponto de alerta. Será que esses exames são mesmo necessários?
O que são os nódulos da tireoide?
Nódulos são formações extremamente comuns na tireoide, segundo as informações do UpToDate {plataforma de recomendações e princípios de Medicina Baseada em Evidências}, e podem surgir por várias razões, até mesmo por um crescimento do tecido da glândula ou por uma deficiência de iodo.
A presença deles varia de 20% a 76% entre as mulheres, por exemplo, e nem sempre precisam de algum tratamento específico, sendo considerados casos benignos.
Muitos, inclusive, passam despercebidos e, quando manifestam sintomas, os mais comuns são, segundo dados da Mayo Clinic:
- Inchaço na base do pescoço, que pode ser visto pela própria pessoa;
- Aumento do volume, sentido no tato;
- Dificuldade para respirar ou engolir devido à pressão do nódulo na faringe e no esôfago;
- Aumento da produção dos hormônios da tireoide, gerando um tipo de hipertireoidismo.
Em alguns casos, os nódulos têm características cancerígenas, sendo considerados malignos. “Nódulos mais sólidos têm mais probabilidade de serem malignos”, exemplifica Bruna Pessoa, médica endocrinologista da Comunidade de Saúde da Alice. Mas essas situações são mais raras, com estimativa de 13,7 mil casos de câncer da tireoide por ano no Brasil, segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Exame de imagem não é indicado para quem não tem sintomas
Justamente pela maior prevalência dos nódulos benignos, fazer os exames de imagem em busca deles em pessoas que não manifestam nenhum sintoma não é recomendado pelas entidades de referência. Uma delas é a US Preventive Service Task Force (grupo de especialistas da atenção primária de saúde dos Estados Unidos).
Segundo a instituição, as evidências atuais não são capazes de afirmar que o exame de ultrassom e a palpação do pescoço sejam testes eficazes para o rastreamento do câncer em pessoas sem sintomas, e podem gerar mais danos do que benefícios.
Eles destacam ainda que os fatores de risco por trás desse tipo de câncer incluem situações não tão rotineiras, como:
- Histórico de exposição à radiação na cabeça e pescoço durante a infância;
- Exposição à chuva radioativa;
- Histórico de câncer de tireoide em familiares de primeiro grau (pais ou irmãos);
- Condições genéticas, como carcinoma medular da tireoide ou síndromes neoplásicas endócrinas múltiplas.
Quem já tentou rastrear o câncer da tireoide {e não tem uma história boa para contar} foi a população da Coreia do Sul.
Em 1999, o governo deu início a um programa de exames para o diagnóstico de alguns tipos de câncer, entre eles o da tireoide. Anos depois, eles viram que o rastreamento tinha realmente aumentado o diagnóstico da doença, mas não havia alterações nos dados de mortalidade.
Isso significa que um número grande de pessoas passou pelo tratamento – que incluía, em alguns casos, a retirada da glândula, com a reposição hormonal contínua –, sem que a doença representasse um risco à vida delas.
“O câncer de tireoide é, agora, o tipo de câncer mais comumente diagnosticado na Coreia do Sul. Mais de 40 mil pessoas no país receberam o diagnóstico em 2011 – que é 100 vezes maior ao número de pessoas que morreram de câncer de tireoide que, na última década, esteve entre 300 a 400 por ano. Praticamente todas as pessoas diagnosticadas eram tratadas: cerca de dois terços passaram por uma tireoidectomia radical e um terço passou por uma tireoidectomia parcial”, destacam os autores de um artigo publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine, em 2014.
Tenho um nódulo na tireoide, e agora?
Em primeiro lugar, lembre-se que a maioria dos nódulos são benignos e surgem por situações comuns, como o acúmulo de líquido devido a um processo inflamatório do corpo.
Mas, já que há um nódulo incomodando, vale passar pela avaliação de um profissional da saúde que pode solicitar exames de sangue e de imagem, como o ultrassom.
De acordo com as características observadas no ultrassom, pode ser necessário {ou não} outro exame: a punção aspirativa com agulha fina, conhecida pela sigla Paaf. “Esse exame é feito com a ajuda de um ultrassom, e o objetivo é retirar algumas células do nódulo, para avaliá-las”, explica Bruna Pessoa, médica endocrinologista da Alice.
A partir da avaliação das células, o profissional consegue classificar o nódulo com um risco de ser mais benigno ou mais maligno e, então, indicar a melhor conduta.
“Não é porque a pessoa tem nódulo que necessariamente vai fazer a punção. Em alguns casos, podemos seguir uma vigilância, com a repetição do ultrassom de tempos em tempos para observar se houve mudança na característica, como textura ou tamanho. Em geral, a probabilidade de mudar de característica é pequena”, reforça Pessoa.
Hipotireodismo e hipertireoidismo: o que são e como tratá-los?
Mais comuns do que o câncer da tireoide são as disfunções da glândula, que se dividem em dois tipos: hipo e hipertireoidismo.
Enquanto o hipotireoidismo indica uma redução na produção dos hormônios pela glândula {e é a disfunção mais frequente}, o hipertireoidismo revela uma ação contrária, de aumento.
Dos sintomas mais comuns para cada tipo, segundo a Mayo Clinic, estão:
Sintomas de Hipotireoidismo
- Fadiga;
- Aumento da sensibilidade ao frio;
- Constipação;
- Pele seca;
- Ganho de peso;
- Inchaço no rosto;
- Rouquidão;
- Fraqueza muscular;
- Aumento dos níveis de colesterol;
- Dores, endurecimento ou sensibilidade dos músculos;
- Dores, endurecimento ou inchaço das articulações;
- Ciclos menstruais irregulares ou mais intensos;
- Mudança na textura do cabelo;
- Frequência cardíaca reduzida;
- Depressão;
- Prejuízos na memória;
- Aumento do tamanho da tireoide.
“O hipotireoidismo é mais comum que o hipertireoidismo, e uma das causas mais frequentes é a tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune. O tratamento do hipo consiste na reposição do hormônio, feito por comprimidos, de forma crônica e contínua, que pode demandar alguns ajustes ao longo do tempo”, detalha Pessoa.
A médica lembra que, se a pessoa tiver alguma alteração de peso importante no meio do caminho, começar um tratamento para outras doenças ou estiver grávida, será preciso ajustar a dose do hormônio.
“Quem fizer uso da vitamina biotina precisa suspendê-la de dois a três dias antes dos exames que avaliam os hormônios tireoidianos, porque a vitamina interfere na leitura deles. Ela não atrapalha a função do hormônio da tireoide, mas pode afetar a leitura laboratorial”, alerta a médica.
Sintomas de Hipertireoidismo
- Perda de peso sem intenção, mesmo quando o apetite e a ingesta de alimentos continua igual;
- Palpitação e aumento dos batimentos cardíacos (taquicardia);
- Batimentos cardíacos irregulares (arritmia);
- Aumento na sensação de fome;
- Ansiedade, irritabilidade e nervosismo;
- Tremores;
- Suor;
- Mudanças no ciclo menstrual;
- Aumento da sensibilidade ao calor;
- Mudanças no padrão para evacuar, com aumento na frequência;
- Aumento da tireoide;
- Fadiga;
- Fraqueza muscular;
- Dificuldade para dormir;
- Mudança na textura da pele e do cabelo.
As causas do hipertireoidismo são várias e, a depender de cada uma, o tratamento será cirúrgico ou medicamentoso. “Uma das causas é a doença de Graves, que é uma condição autoimune. Outra pode ser um nódulo que favoreça a produção do hormônio e, neste caso, pode ser necessário retirá-lo cirurgicamente. A causa pode ser ainda uma inflamação da tireoide”, explica Pessoa.
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