Dizem que o MDMA, também chamado de MD, é a droga do três “E”: euforia, energia e empatia, que são os principais efeitos causados por ela no organismo.
“A pessoa fica com vontade de tocar mais nos outros, de expressar mais seus sentimentos, além de aumentar a empatia. São os chamados efeitos intactógenos, por isso que o MD foi apelidado, nos anos 1960, de a ‘droga do amor'”, explica Pedro Coser, psiquiatra da Comunidade de Saúde da Alice.
Se você ficou surpreso de saber que o MDMA circula há mais de 60 anos por aí – ao contrário de muitos acharem que ele virou moda há poucos carnavais –, saiba que ele é sinônimo de ecstasy.
O que é MD?
Tanto o MD como o ecstasy derivam da mesma substância, a 3,4-metilenodioximetanfetamina (daí a origem da sigla que se popularizou, o “MDMA”).
O que muda entre é a “apresentação”: enquanto o ecstasy costuma vir em comprimido (ou em “bala”), o MD é consumido em pequenos cristais ou um pozinho branco que deriva dele e é ingerido via oral ou diluído na água.
No Brasil, conforme estimou a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no “III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira”, elaborado entre 2015 e 2017 e divulgado em 2019, o ecstasy/MD consta da lista das drogas ilícitas mais consumidas. Mais de 1 milhão de brasileiros já fizeram uso dessa substância sintética em algum momento de suas vidas.
No Carnaval brasileiro, a droga foi muito popularizada entre os jovens, que a usam de forma recreativa, da mesma forma como fazem com o lança-perfume.
Qual é o efeito do MD no organismo?
O MD age em vários neurotransmissores, causando liberação, pelo sistema nervoso central, de substâncias ligadas ao prazer e bem-estar, como a serotonina e a dopamina, além da norepinefrina. Tudo isso altera os mecanismos envolvidos no controle do humor, da termorregulação, do sono, do apetite e do controle do sistema nervoso autônomo.
A descrição consta de uma revisão da literatura científica sobre a droga, publicada em 2007 por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Os efeitos, dizem os especialistas, são observados entre 20 a 60 minutos após a ingestão de doses moderadas, e duram entre 2 e 4 horas.
Quais os riscos do consumo do MDMA?
Engana-se quem pensa que a ingestão dessa droga seja “só amor”. Muito pelo contrário: os riscos são inúmeros, e, em algumas vezes, podem ser fatais, alerta Coser.
A maior parte dos efeitos adversos está relacionada a uma intensa hipertermia, ou seja, quando a pessoa fica tão excitada e agitada que aumenta sua temperatura corporal a ponto de fazer um quadro de febre.
“Por isso que quando a gente fala em redução de danos em relação ao MD, a gente indica que nas festas haja espaços chamados de ‘chill out’, que tem muito em festas de música eletrônica, para as pessoas ficarem deitadas ou sentadas conversando e descansando nem que seja por uns 20 minutos para esfriar um pouco o corpo e cortar um pouco o efeito”, explica Coser, que também é especialista no estudo das chamadas “drogas de balada”.
Segundo ele, estes são efeitos perigosos que podem ser associados ao uso do MD:
- hipertermia;
- rabdomiólise, que é uma lesão grave nas fibras musculares causada, entre outros motivos, por atividades físicas intensas, como, por exemplo, dançar de pé por 12 horas sob o efeito da droga;
- aumento da pressão arterial;
- problemas cardiovasculares;
- taquicardia que pode levar a um infarto;
- uma “bad trip” acompanhada de uma sensação de desespero, como se a pessoa estivesse fora da realidade e não conseguisse voltar;
- sintomas depressivos no dia seguinte ao uso da substância.
O psiquiatra chama a atenção também para o fato de que, como costuma acontecer com drogas sintéticas, o MD é feito em laboratórios muito caseiros e amadores, e não há como ter um controle sobre a sua composição.
Muitas vezes, ele complementa, “pode haver contaminação ou até a adição de outras substâncias para baratear a produção ou mesmo mimetizar algum efeito”.
Dessa forma, os efeitos sob o organismo também acabam sendo incontroláveis.
O mesmo risco acontece quando o MD é consumido em associação a outras drogas – e é comum o uso com bebidas alcoólicas na mesma situação social.
O MD pode causar dependência química?
Segundo Coser, não existe um consenso na comunidade científica de que a substância possa causar dependência ou não.
“Mas a gente sabe que o uso crônico e muito frequente causa problemas, principalmente relacionados ao humor e ao funcionamento geral da pessoa. Fazer uso de MD todo fim de semana pode deixar a pessoa com uma série de efeitos que ela não deveria ter ao longo da semana, como, por exemplo, sintomas depressivos que afetam a vida da pessoa”, conclui.