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Burnout: como reconhecer que o corpo precisa parar

Desde o início do ano, a síndrome se tornou doença ocupacional; veja como se sentir confortável para pedir ajuda.

Priscila Carvalho
| Atualizado em
7 min. de leitura
Burnout

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Em 1º de janeiro deste ano, a síndrome de burnout entrou para lista de doenças ocupacionais reconhecidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Com a mudança, trabalhadores poderão pedir às empresas afastamento caso sejam diagnosticados com a condição.

Mesmo diante da nova regra, o assunto ainda é tabu, e pedir dispensa das funções laborais não é tão simples, já que muitos trabalhadores sentem medo de expor o problema aos chefes.

“O afastamento é obrigação legal da empresa, mas, claro, naturalmente as pessoas têm receio e dizem ‘dou conta’ ou ‘meus colegas vão ser prejudicados’”, ressalta Stephanie Witzel, psicóloga da Alice.

Redução do bem-estar na pandemia

Ao avaliarem centenas de estudos acerca dos impactos da pandemia na saúde mental, pesquisadores identificaram, na população em geral, baixa sensação de bem-estar. 

Entre os profissionais de saúde, a situação é mais grave. Pesquisa publicada na revista Lancet mostrou que o sofrimento psicológico por testemunhar mortes relacionadas à covid-19, o profundo estado de desânimo e as longas jornadas de trabalho fizeram a Síndrome de Burnout atingir taxas alarmantes entre médicos, enfermeiros e outros profissionais que atuam na linha de frente.

Contudo, um estudo envolvendo profissionais brasileiros que atuam em UTIs concluiu que o Burnout e os sintomas clínicos de depressão e ansiedade foram empiricamente distintos em uma grande amostra de médicos, apontando a necessidade da triagem correta para que se ofereça o suporte e o tratamento adequados. 

Para a enfermeira gestora Mariana Marconsin, da Alice, qualquer paciente sob forte estresse relacionado ao trabalho deve ser acompanhado de forma multidisciplinar.

“Pacientes com relato de esgotamento de energia são acolhidos com muita oferta de espaço de escuta para que consigam se sentir seguros e confortáveis para falar sobre suas questões. E todo trabalho em saúde mental deve ser multiprofissional e interdisciplinar, porque a gente entende que as questões psíquicas não se devem a um único fator”, afirma. 

O cuidado, segundo ela, precisa ser ainda maior quando se trata de pessoas com doenças crônicas. Isso porque profissionais com diabetes, hipertensão e outras enfermidades crônicas são mais propensos a desenvolver a Síndrome de Burnout, conforme apontou estudo científico publicado pela Nature

“Quando pensamos num diagnóstico de doença crônica, pensamos num tratamento para a vida toda. A pessoa vai ter que fazer um acompanhamento em saúde e não se desligar dele, não esquecer de si mesmo. Não pode deixar de tomar medicamentos ou de fazer exames, por exemplo. E isso já traz um impacto na saúde mental”, explica Mariana Marconsin, reforçando a importância de criar estratégias para lidar com o sofrimento que possa estar relacionado ao trabalho. 

Burnout: como reconhecer o problema

O burnout é desencadeado por estresse crônico no trabalho e provoca sintomas que podem ser físicos ou mentais. A doença pode demorar meses ou anos para se intensificar e, muitas vezes, não é tão fácil reconhecer ou admitir que se está com a síndrome.

Geralmente, o corpo começa a apresentar diversos sinais e os sintomas mais comuns são dor de cabeça, enjoo, queimação no estômago, crises de choro, queda de cabelo, taquicardia e ansiedade excessiva.

A irritabilidade com pessoas ao redor também pode surgir, e dificilmente a pessoa afetada percebe que está doente.

Ir ao trabalho todos os dias também se torna uma tarefa difícil, e simples ações como abrir o notebook ou checar um email podem ocasionar choros, ansiedade e palpitações no peito.

O tripé do Burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional)

Sobrecarga

Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia.

Despersonalização

Distanciamento mental do trabalho ou negativismo ou cinismo em relação ao trabalho.

Ineficácia

Sentimento de insatisfação com as atividades ou de falta de realização profissional.

O tripé do Burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional)

Como falar sobre a síndrome no trabalho

Mesmo sendo um tema que ainda gera constrangimento no ambiente de trabalho, os sinais de burnout devem ser levados aos superiores dentro da empresa, independentemente da função que a pessoa afetada ocupa.

Existem maneiras para que o funcionário faça isso e possa ter um diálogo saudável com seus superiores. Segundo Stephanie Witzel, o ideal é ter uma conversa franca e expor que está sofrendo com sintomas de ansiedade e reforçar que esses sinais estão prejudicando o seu desempenho.

“Ao falar com o chefe, lembre-se que se trata de um ser humano falando com outro. Ela não será a primeira ou única pessoa a passar por isso. Fale abertamente. O outro não tem como adivinhar o que você sente”, destaca Jainan Barretto, psicóloga da Alice.

‍Profissões que estão mais suscetíveis à síndrome

Diante da rotina estressante do dia a dia, muitas pessoas acabam negligenciando os sintomas do burnout. Alguns trabalhadores podem sofrer mais com o problema, devido à grande exposição que sofrem, seja por causa de demandas físicas ou mentais.

Geralmente, profissões que precisam lidar com metas e demandas de urgência sofrem mais com a doença, como policiais, jornalistas, médicos, atendentes de telemarketing, professores, enfermeiros e outros.

Tratamento para Burnout

Quando o médico dá o diagnóstico de burnout, a pessoa precisa ser afastada da rotina e do ambiente de trabalho. É necessário fazer pausas, que serão estipuladas pelo especialista, e realizar mudanças no dia a dia.

O tratamento ocorre de forma multidisciplinar com médicos, como psiquiatra ou médicos da família, e psicoterapia. É ainda recomendado fazer mudanças alimentares, praticar atividade física e realizar tarefas que proporcionem prazer no lado social.

Como prevenir o esgotamento profissional

Ebook produzido pelo Laboratório de Psicologia Organizacional e do Trabalho da USP – Ribeirão Preto mostra que o teletrabalho, quando bem administrado, traz mais liberdade, flexibilidade e produtividade

Os profissionais apropriam-se do sentido do trabalho e têm redução do estresse associado a deslocamentos, por exemplo, além de mais tempo para a família. 

Por outro lado, quando há sobrecarga de tarefas, as consequências são negativas. O cansaço físico e emocional do trabalho remoto prolongado pode ser ampliado pela falta de suporte gerencial ou tecnológico e pela redução na interação com os colegas de equipe. 

Para evitar o adoecimento, devem ser adotadas ações individuais e organizacionais. 

O trabalhador à distância deve buscar instituir uma rotina estruturada dentro de casa, definindo os horários de serviço e os de dedicação à família e às tarefas domésticas. 

O expediente, incluindo as pausas para alimentação e desconexão, deve ser claramente estabelecido com a chefia. O volume de trabalho também precisa ser objeto de reflexão e de negociação com o chefe. “A carga de trabalho deve ser sustentável”, defende a presidente da ANMT, Rosylane Rocha.

Aos gestores, é sugerido distribuir tarefas de forma equilibrada, dar autonomia e maior possibilidade de escolhas, além de promover a cooperação entre os integrantes da equipe.

Mesmo de forma remota, espaços para troca de informações e experiências podem ser criados a partir de ferramentas de comunicação corporativa ou de aplicativos. 

Cabe às empresas divulgar regras sobre o teletrabalho e oferecer orientação constante, incluindo capacitação em temas como ergonomia, gestão do tempo e autogerenciamento.

‍Dicas para ter mais saúde no teletrabalho

Se você é funcionário

– Institua uma rotina estruturada;

– Estabeleça o horário de expediente com a chefia;

– Planeje a execução das tarefas;

– Reflita sobre o volume de trabalho.

‍‍Se você é gestor

– Distribua tarefas e metas de forma equilibrada;

– Evite fazer demandas fora do horário de expediente;

– Dê autonomia e feedback aos teletrabalhadores;

– Promova a integração e a cooperação entre a equipe.

Se você lidera a organização:

– Divulgue regras claras sobre o trabalho remoto;

– Ofereça condições ergonômicas e suporte tecnológico;

– Estabeleça meios de escuta e promova ações de capacitação.

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