O sangue contém diversos elementos essenciais para o funcionamento das células. Um deles é o ferro, transportado e armazenado por uma proteína chamada ferritina.
Tanto o ferro quanto a ferritina contribuem para a produção dos glóbulos vermelhos, células sanguíneas responsáveis pela oxigenação celular. Quando esse processo não ocorre da maneira esperada, alguns sintomas podem aparecer, como cansaço e fraqueza. E aí surge a necessidade de investigar o que pode estar acontecendo.
O que é a ferritina?
Para entender a ferritina, primeiro é preciso conhecer o ferro.
O ferro é um nutriente essencial para todas as células humanas, mas não é produzido pelo próprio organismo. Por isso, devemos consumi-lo na alimentação.
Após ingerido, é transportado pela corrente sanguínea e estocado. E quem faz isso? A ferritina, uma proteína gerada pelo fígado.
É como se a ferritina fosse o trem e o ferro correspondesse à matéria-prima transportada e distribuída pela corrente sanguínea.
E se os vagões ficarem vazios, ou seja, se não houver ferro para transportar? O fígado entende que não há necessidade de trem, deixando de produzir ferritina.
O contrário também pode acontecer? Sim! Se houver muito ferro para carregar e guardar, a ferritina é produzida em maior quantidade.
Exame de ferritina
A análise de ferritina é feita a partir da coleta de sangue, mas não costuma fazer parte dos exames de rotina.
“Não há necessidade de fazer a dosagem de ferritina em uma pessoa sem sintomas. Quando há suspeita de anemia ou de desnutrição, pode haver indicação desse exame, que também pode ser recomendado para quem pertence a uma população caracterizada por baixa reserva de ferro”, afirma Luís Antônio Soares Pires Filho, médico de família e comunidade da Alice.
Ferritina: valores de referência
Quando a pessoa está saudável, a quantidade de ferritina esperada vai de 23 a 336 ng/ml (nanograma por mililitro) para homens, e de 11 a 306 ng/ml para mulheres (exceto gestantes).
Resultados que fogem a esses valores de referência podem indicar ferritina baixa ou alta, mas o índice não é visto de forma isolada.
“A ferritina deve ser sempre avaliada em comparação com outros parâmetros dos exames de sangue e junto com a análise clínica, que inclui os sinais, sintomas e queixas que a pessoa apresenta”, enfatiza o médico.
Ferritina alterada: o que pode ser?
O nível de ferritina é um indicativo da quantidade de ferro que está em circulação ou sendo armazenado no organismo. Muitas vezes, a deficiência ou o excesso estão associados ao consumo do nutriente pela alimentação ou suplementação.
Mas há outros motivos que explicam uma ferritina alterada, como sangramentos ou uma resposta do corpo a inflamações.
Ferritina baixa: desequilíbrio entre oferta e demanda de ferro
Baixos níveis de ferritina sinalizam que os estoques de ferro estão insuficientes. Há um desequilíbrio entre a quantidade de ferro que entra no organismo e o que é usado ou descartado – e isso pode atrapalhar a oxigenação sanguínea.
O baixo consumo de alimentos ricos nesse nutriente é um dos principais motivos, resultando em uma oferta menor de ferro do que o corpo precisa.
Sangramentos recorrentes também podem deixar o quadro desbalanceado. No caso das pessoas que têm útero, por exemplo, ter um fluxo menstrual muito intenso pode ampliar a perda de sangue e, consequentemente, de ferro.
Sangramentos também podem ocorrer devido a distúrbios gástricos, como úlceras.
Outro motivo para baixos índices de ferro pode ser hipotireoidismo, devido à redução do metabolismo.
“É necessário levar em conta os sintomas que a pessoa possa vir a ter. A úlcera gástrica, para causar alterações laboratoriais, geralmente vem acompanhada de azia, queimação, refluxo e dores abdominais. No caso do hipotireoidismo, pode haver baixa energia, sonolência excessiva, dificuldade de perda de peso, alterações na pele e na voz”, destaca Filho. Além disso, a carência de ferro é responsável pela maioria dos quadros de anemia, marcada por alterações nas células do sangue.
Ferritina baixa: sintomas
- Cansaço;
- Fraqueza;
- Tontura;
- Dor de cabeça;
- Fadiga;
- Palidez;
- Indisposição física;
- Irritabilidade;
- Queda de cabelo.
Como tratar a insuficiência de ferro?
A principal forma de melhorar os índices de ferritina no organismo é por meio da alimentação. O passo a passo mais indicado é:
- Aumentar a ingestão de ferro, recorrendo a fontes variadas;
- Potencializar a absorção desse mineral com outros nutrientes.
Alguns alimentos considerados ricos em ferro, segundo a Universidade de Harvard, são:
- Carne bovina;
- Fígado de boi ou frango;
- Sardinha;
- Ostras;
- Mexilhões;
- Aves;
- Atum;
- Feijão;
- Chocolate amargo (pelo menos 45%);
- Lentilhas;
- Espinafre;
- Batata com pele;
- Sementes de nozes;
- Arroz ou pão enriquecidos.
Para melhorar a absorção pelo organismo, uma orientação é combinar o consumo de fontes de ferro com alimentos ricos em vitamina C, como laranja ou limão. Na próxima feijoada, coloque a laranja no prato pra comer junto com o feijão, por exemplo.
Outra dica é evitar incluir, nas principais refeições, alimentos que inibem a absorção do ferro, como os ricos em cálcio (leite e derivados) ou que contenham polifenóis e fitatos (doces, vinho tinto, chocolate, café, chá verde e chá preto).
Dependendo do caso, pode ser necessário recorrer à suplementação de ferro via oral. E também existe a possibilidade de reposição diretamente na veia.
“A reposição intravenosa costuma ocorrer quando a pessoa não tolera tomar ferro via oral ou tem algum problema gastrointestinal que impeça a absorção. Não existe uma superioridade no tratamento intravenoso, nem uma indicação desse procedimento por gravidade. Na prática, o resultado é o mesmo”, frisa o médico.
Ferritina alta e inflamações no corpo
A ferritina pode aumentar se houver excesso de ferro no organismo. E isso acontece por alguns motivos.
“A pessoa pode ter uma sobrecarga de ferro por transfusão, mas a maior parte dos casos está associada a quadros patológicos. Por exemplo, quem suplementa em excesso por conta de uma anemia crônica ou de uma deficiência da medula óssea. Também existem causas genéticas, como a hemocromatose hereditária, que é uma mutação no metabolismo”, explica o médico.
Para evitar esse acúmulo desnecessário, vale lembrar que a suplementação de ferro não deve ocorrer sem a orientação de um profissional de saúde, ok?
“Se a pessoa tem uma dieta variada, não há necessidade de suplemento polivitamínico com ferro, por exemplo. Não há benefício e pode causar sobrecarga de ferro”.
Existem situações em que a ferritina aumenta na corrente sanguínea não por um excesso de ferro, mas como uma resposta a inflamações. Isso pode ocorrer, muitas vezes, quando há comprometimento das funções do fígado {e o excesso de álcool é um dos fatores que afetam consideravelmente o funcionamento do órgão}.
A pessoa com ferritina alta pode apresentar sintomas semelhantes aos de ferritina baixa, mas os sinais não costumam ser notados, ou são ofuscados pelos da inflamação.
Quais os sintomas da ferritina alta?
- Cansaço;
- Fraqueza;
- Tontura;
- Dor de cabeça;
- Desconforto abdominal;
- Indisposição física;
- Dores nas articulações;
- Queda de cabelo.
No caso de ferritina alta devido a doenças inflamatórias, não há um tratamento específico para reduzir a quantidade dessa proteína.
“Na maior parte dos quadros inflamatórios, a ferritina não fica alta a ponto de justificar um procedimento específico, como uma sangria (retirada de sangue, como ocorre nas doações). Em geral, melhorando o processo inflamatório, o nível de ferritina também melhora”.
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